A MELHOR cerveja é daqui! (e não estou falando da Polar)
#RSMelhorEmTudo. Com essa hashtag pode ser iniciada a explicação sobre como foi a quarta edição da South Beer Cup – a “Taça Libertadores da América” da cerveja, realizada em Belo Horizonte, paralelamente à ExpoCachaça, em maio. Esqueça a teoria de que a melhor é daqui, a melhor é a Polar (que também adoramos).
Com menos de um ano de existência, a Cervejaria Tupiniquim, de Porto Alegre, recebeu duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze — e com a soma dos pontos, se consagrou a grande campeã, sendo considerada a melhor cervejaria da competição, que reuniu 105 cervejarias de oito países, com 530 rótulos distribuídos em 36 categorias.
As cervejas Extra Fancy e Anunciação, ambas da Tupiniquim, ficaram respectivamente em primeiro e segundo lugares entre o grupo India Pale Ale (IPA), estilo cujo principal atributo é o amargor provocado por doses altas de flor de lúpulo.
Na categoria Imperial IPA — em que as cervejas têm maior concentração de álcool e amargor em relação à IPA — conquistaram o primeiro lugar com a Polimango. Ficaram em segundo com a híbrida Tupiniquim Lost in Translation, no estilo americano. A quinta cerveja da Tupiniquim premiada foi a Saison de Caju, bronze entre as ales belgas e francesas.
— É uma honra muito grande termos sido premiados em um concurso onde constavam cervejas de praticamente todas as cervejarias brasileiras — orgulha-se Alex Ribeiro, à frente da marca junto ao irmão Márcio e aos amigos Christian Bonotto, André Bettiol e Fernando Jaeger.
Rótulos conhecidos como Eisenbahn, Colorado, Dado Bier, Wäls e os da multinacional Ambev também participaram da disputa.
Bom, aos entusiastas de platão, como os prêmios dourados da Tupiniquim foram com IPAs, a Polar continua sendo a melhor Pilsen do mundo, ok?
Como funciona o concurso
Os avaliadores do South Beer Cup, explica Ribeiro, degustam as cervejas em uma espécie de teste cego. Avaliam, dentro dos atributos de cada categoria, quesitos como cor, amargor, aroma, espuma e percentual alcoólico — e, com base neles, vão atribuindo notas.
Surpresas nos resultados
As cervejarias brasileiras conquistaram 25 (70%) das 36 medalhas de ouro em disputa – em três categorias, não houve medalhas de ouro, já que só são premiadas com medalhas as amostras que alcançam pontuações mínimas na média dos juízes. A lista dos vencedores (que pode ser vista clicando na imagem ao lado) da South Beer Cup, trouxe outras surpresas além da vitória da novata Tupiniquim.
A maior delas, possivelmente, é a zebra na categoria International Lager (a popular “loura gelada”). A artesanal paulista Dama Bier ficou com a prata com sua Pilsen, enquanto o ouro ficou para a industrial Schin, da Brasil Kirin, superando outras 15 cervejas. Não houve medalha de bronze na categoria.
Outra é a ausência absoluta da vencedora do Festival Brasileiro da Cerveja, a Açaí Stout, da paraense Amazon Beer. Por outro lado, a cervejaria conquistou ouro e prata na categoria destinada às cervejas com ervas e temperos, com a Taperebá Witbier e a Priprioca Red Ale, respectivamente. E, ainda, medalha de prata na categoria cervejas com frutas, com a Forest Bacuri Pilsen.
Mais sobre a Tupiniquim
Em julho de 2013 a Tupiniquim ainda fabricava suas cervejas na Saint Beer, de Forquilhinha (SC), mas desde janeiro deste ano está com sede própria no bairro Anchieta, na Capital. Das máquinas da Tupiniquim, onde operam apenas cinco funcionários além dos cinco sócios, saem cerca de 15 mil litros de cerveja por mês.
— Eu, o André e o Fernando éramos estagiários da seção de informática de um banco do Rio Grande do Sul, e acabamos montando uma importadora, a Beer Legends, há três anos. Márcio e o Alex vieram para cuidar da parte comercial. Como eu e André já fazíamos cerveja em casa, e tínhamos muitos contatos com distribuidores, decidimos produzir as nossas cervejas — contou o cervejeiro Christian Bonotto, em entrevista ao Dois Dedos de Colarinho.
O que vem por aí
Os cinco rótulos premiados foram feitos em parcerias com cervejarias estrangeiras de destaque no meio artesanal. A Extra Fancy e a Lost in Translation vieram da colaboração com o dinamarquês Jeppe Jarnit-Bergsø, da Evil Twin; a Polimango, com o sueco Henok Fentie, da Omnipollo; e a Saison de Caju, com o americano Brian Strumke, da Stillwater.
O que significa, essencialmente, que a Tupiniquim vai ter que provar que consegue fazer boas cervejas sem a mãozinha dos gringos talentosos.
— A responsabilidade aumenta, né? Com certeza — ri Christian. — Mas a gente vê estas colaborativas como um aprendizado — analisa.
Os convites foram facilitados, segundo ele, pela própria atuação da importadora, que traz 180 rótulos para o país, distribuídos em cinco estados (RS, RJ, SC, SP e MG). A cervejaria, agora, tem planos de lançar um ou dois rótulos a cada dois meses, segundo ele.
Quer dizer que pode-se esperar uma enxurrada de IPAs? Não exatamente, diz Bonotto.
— Temos receitas de vários estilos. Vamos continuar inovando, que é o que o mercado está pedindo. Além disso temos uma pilsen e uma weiss que são bastante vendidas no Rio Grande do Sul.
Ele não quis adiantar quais são os próximos lançamentos. No Facebook, porém, já mostrou fotos da produção de uma imperial stout (9,5% de teor alcoólico) em colaboração com a com holandesa Rooie Dop, que se chamará Back to Black.
South Beer Cup
No Brasil, o grande concurso é o Concurso Brasileiro de Cervejas, que teve sua segunda edição em 2014, mas quem escolhe as melhores da América do Sul é South Beer Cup 2014.
Em sua quarta edição, alternando entre o Brasil e a Argentina, o concurso deste ano foi realizado em Belo Horizonte (MG) entre os dias 21 e 24 de maio.
No concurso, anualmente podem concorrer todas as cervejas sul-americanas produzidas profissionalmente — as brasileiras devem ter registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Todo o processo de inscrição dos rótulos é feito on-line pelo, nesse ano no site da ACervA Mineira, o qual também contou com todas as informações técnicas e práticas da competição, como o regulamento oficial e o Guia de Estilos da Brewers Association (BA), que serviu de referência para as avaliações dos julgadores. Na edição de 2014, estiveram presentes cervejeiros consagrados, como Pete Slosberg (Pete´s Brewing Company – EUA), Fal Allen (Anderson Valley – EUA), Thomas Thyrrel (VLB Berlim – Alemanha), além dos cervejeiros caseiros americanos Dan Teff e Sean Paxton.
Comprei duas Tupiniquim Pilsen para degustar neste final de semana, vamos ver se é tão boa quanto as IPAs.