Emboscada perfeita
Fernando Cunha
Ela armou a emboscada perfeita. No primeiro encontro vestia uma calça justa, mas nem tanto, uma blusa estampada com alguma frase que não consegui identificar de cara e por cima um casaco alinhado, uma espécie de blazer descolado. Era a mistura de um estilo clássico e cool ao mesmo tempo.
No restaurante, ficamos no bar, ela pediu um Cosmopolitan, enquanto fui no clássico Dry Martini. Eu analisava tudo, tentava decifrar seus gostos, suas preferências, cada gesto, cada palavra. No som ambiente tocava jazz e ela começou a dizer o quanto gostava de Count Basie, Thelonious Monk e Bill Evans. Não demorou muito para falar que seus livros de cabeceira eram O Morro Dos Ventos Uivantes, Ipanema Blues e como se divertia com as crônicas de David Coimbra sobre amor. Nesse momento, eu já estava embasbacado, mas ela não teve piedade, disse o quanto adorava Cidadão Kane, o Poderoso Chefão que mais gostava era o segundo, com Al Pacino na pele de Michael Corleone, e o quanto Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, de Glauber Rocha, foram impactantes na vida dela. Essa noite foi longa, durou até o amanhecer, não necessariamente no bar, e logo depois ela foi embora.
Como pode, ao acordar eu me perguntava se havia sido de verdade ou irreal. Quando olhei o celular, tive a certeza de que era realidade. Na mensagem deixada por ela dizia apenas “Bom dia! Não vejo a hora da segunda vez”. No caso, nem eu.
Pelos próximos meses, aquilo se manteve. A chama seguia nas alturas e as similaridades também. Adorávamos sair para jantar, mas também gostávamos de pegar a estrada, viajar, conhecer lugares novos. No meu aniversário ela disse que iria me raptar, fazer uma surpresa e armar uma viagem bem legal, mas só eu sabia que meu coração já havia sido raptado há meses. Adorávamos descobrir novos lugares, novos cafés, novos restaurantes, escutar música abraçados e falarmos do hoje, do amanhã e do sempre.
Depois de tantas conversas e todos os tipos de assuntos e reflexões, lembramos de nossa primeira noite. Ela disse que realmente gostava de tudo aquilo, mas que antes de sairmos ela fez algumas pesquisas pela internet e redes sociais para observar meus gostos, isso fez dela mais confiante, pois batiam com suas preferências.
Ela apenas se importou em citar os exemplos exatos e disse o quanto estava feliz por nos darmos tão bem, gostarmos de fazer tantas coisas juntos e que desejava que essa fase atual nunca acabasse. Eu apenas sorri, agradeci por tantos momentos especiais, prometi que iriamos nos esforçar para que aquilo fosse eterno e falei: Você realmente armou a emboscada perfeita. Muito obrigado!