Entrevista – Cilon Estivalet

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O meio ambiente é peça chave para o planeta, e conseqüentemente para todos nós. O Brasil detém a maior fatia da biodiversidade da terra: entre 15 e 20%. A natureza nos permite ter uma vida mais saudável, relacionando elementos que vão do ar aos seres vivos, fazendo com que possamos viver em harmonia com o meio ambiente. Mas nem todos pensam desta maneira. A devastação da Amazônia, o lixo que é jogado fora de maneira indevida e a poluição no ar, são apenas algumas das inúmeras questões que devem ser debatidas a todo instante. Sem isso, nosso planeta ficará arruinado em poucos anos e nossos filhos e netos que ficarão com o problema.

 

A partir desse pensamento fomos atrás de alguém que trabalha com o meio ambiente e faz o seu dever de casa. Todos têm que agir dessa forma, mostrando atitudes para fazer de nosso planeta
um lugar melhor para se viver.

 

Formado em Economia pela UFSM em 1968, com Pós-Graduação na Escolatina, no Chile de 70 até 72. Cilon deu aula de Realidade Brasileira na Unisinos de 72 até 86. Em 72, ele começou a trabalhar no GERM, que mais tarde tornou-se Metroplan, como responsável pelo planejamento de habitação no Plano de Desenvolvimento Metropolitano.

 

Foi assistente especial da Assembléia Legislativa em 84, de 86 à 89 trabalhou como assessor do prefeito Collares. Em seguida, foi Diretor Técnico da Metroplan, de 90 à 94. “Hoje sou responsável na Metroplan pelo laboratório de Educação Ambiental, com o objetivo de formar agentes ambientais para serem multiplicadores de educação ambiental nas comunidades da região Metropolitana. A Educação ambiental, que defino como a arte de cuidar dos sistemas vivos, está presente em toda parte, ela começa em casa, se aperfeiçoa na escola e deve retornar como um comportamento de cidadania”.

 

Além de seu trabalho na Metroplan, Cilon presidiu durante dez anos a ASSECAN (Associação Ecológica de Canela), que tem como meta a regeneração da floresta com araucárias. Hoje, Cilon é coordenador do conselho deliberativo desta ONG.

 

Fê Cunha – Educação ambiental deveria ser matéria obrigatória na escola ou uma forte divulgação do Governo Federal já seria o suficiente para uma conscientização geral da população?
Estivalet – A educação ambiental não pode depender apenas da política pública. Ela faz parte da cultura das comunidades que vivem em harmonia com os ambientes naturais. A mídia, por exemplo, faz mais que os governos.

 

Fê Cunha – Entre as formas de poluição, como a do ar, com a emissão de gases tanto de empresas quanto de automóveis, da água por meio do desperdício indevido do lixo e do solo pela forma com que a dona de casa se desfaz do óleo de cozinha, por exemplo. Qual tipo de poluição mais te revolta ou incomoda?
Estivalet – A falta de cuidado com os nossos resíduos gera o que chamamos lixo; que é também a forma de poluição mais simples de ter soluções, pois o cuidado com o lixo deve começar em casa, no âmbito da família. O simples “se desfazer” do lixo corretamente é o que menos acontece.

 

Fê Cunha – Quais medidas você toma com o lixo de sua casa?
Estivalet – Armazeno todo o lixo orgânico durante a semana em um tonel e depois levo para um quintal fora de Porto Alegre, com os demais resíduos procuro reutilizá-los ou encaminho para a coleta seletiva.

 

Fê Cunha – O EcoTurismo tem aumentado muito no Brasil nos últimos anos, você acredita que ainda tenha muito mais a crescer? e o que deveria ser feito?
Estivalet – Convivo muito na Serra Gaúcha, onde o ecoturismo é pouco desenvolvido e encarado como turismo de aventura, que nem sempre respeita o meio ambiente. Os governos e prefeituras deveriam divulgar mais suas belezas naturais.

 

Fê Cunha – Qual a sua posição sobre a privatização dos parques nacionais?
Estivalet – A palavra privatização já me causa arrepios. Mas como sou proprietário da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Bosque de Canela, considero importante o papel da iniciativa particular na preservação dos ambientes naturais. No RS apenas 0,5% do seu território está em Unidades de Conservação públicas, sendo que muitas não têm nenhuma gestão ambiental e existem apenas no papel. Portanto, o que temos de patrimônio natural ainda está em terras particulares.

 

Fê Cunha – Após dez anos da Eco92, você notou avanço na conscientização entre os brasileiros em relação a meio ambiente?
Estivalet – Avançamos! Hoje temos experiências valiosas, mas ainda estamos crescendo lentamente.

 

Fê Cunha – A proteção do Governo Federal ao meio-ambiente é eficaz?
Estivalet – Não. Pois as próprias leis feitas por governantes têm lacunas, que fazem a ilegalidade de atos acontecer. Além disso, deveria ser mais severa com que polui e desmata, isso ocasionaria em uma proteção de fato.

 

Fê Cunha – Se fala muito em internacionalização da Amazônia, o que você acha disso?
Estivalet – Na proteção ao meio ambiente não existe fronteiras. Não há lugar para nacionalismo. Estamos todos no mesmo Planeta que está indo para o brejo.

 

Fê Cunha – Você acha que o programa “Avança Brasil” (http://www.abrasil.gov.br/) poderá causar algum impacto ambiental no país?
Estivalet – Com certeza. Construções, reformas e demais mudanças deverão ser muito bem planejadas. Se as coisas acontecerem de qualquer forma, como estamos acostumados a ver em nosso país, causará impactos ao meio ambiente.

 

Fê Cunha – O que você acha da criação do Código de Direito Ambiental Brasileiro?
Estivalet – Somos um país com muitas leis ambientais. Considero interessante, mas assuntos como gestão ambiental, que inclui educação, fiscalização e proteção, deixam a desejar.

 

Fê Cunha – Os postos Ipiranga inventaram o Cartão Ipiranga Carbono Zero, onde ao abastecer em um posto Ipiranga, o cliente paga com o cartão e a empresa investe em programas de neutralização de carbono, como o plantio de árvores. Além disso, Os postos Ipiranga veiculam muito o slogan de ser o primeiro cartão ecológico de abastecimento do Brasil. Você acha que estas atitudes de grandes empresas têm real finalidade de ajudar o meio ambiente ou você vê isto como uma maneira de marketing/divulgação da marca, já que esta medida será tomada apenas para clientes que adquirirem determinado cartão?
Estivalet – Isso é marketing. O que eles realmente querem passar é a imagem “faça nosso cartão, abasteça nos postos Ipiranga, nos dê dinheiro”. Legal que eles façam o plantio das árvores, mas a idéia principal não é essa e sim vender o seu produto.

 

Fê Cunha – O Brasil é reconhecido mundialmente como o país que detém a maior fatia da biodiversidade do planeta: entre 15 e 20%. Além disso, metade do PIB brasileiro vem do uso direto da biodiversidade por meio da agricultura, pecuária, pesca, aqüicultura, exploração florestal, silvicultura e turismo. Porém, a Mata Atlântica é a segunda floresta tropical mais ameaçada de extinção no Planeta, mesmo sendo uma das mais biodiversas. Atualmente, restam no Brasil cerca de 8% dos 1.350 mil km² originais, algo em torno de 100.000 km². Esse processo de devastação tem acelerado especialmente nos últimos 50 anos, o que você sugere para ajudar o país neste ponto e mudar estes números alarmantes?
Estivalet – Faço minha parte, se todas as pessoas pensarem dessa forma isso muda. Muitas vezes pensamos que nossos atos sejam pouco para mudar, mas é aquela velha história, se eu mudar minha forma de agir e pensar no meio ambiente, meu vizinho olha e faz igual e assim por diante. Essas atitudes podem mover não só as pessoas de nossa comunidade, mas chegar aos governantes, com isso, uma eventual atenção verdadeira com a Amazônia é possível. A culpa de todo esse desmatamento que os números comprovam, é deles, que são votados por nós, mas que não cuidam de um grande bem da nação.

 

Texto de Fernando Cunha ©

2 comentários em “Entrevista – Cilon Estivalet

  • setembro 21, 2008 em 12:15 pm
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    Bacana a entrevista com esse maravilhoso lutador!Abraço!

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  • outubro 7, 2008 em 5:52 pm
    Permalink

    O que falta para as pessoas darem importância ao meio ambiente é a concientização da importância do mesmo.
    A educação ambiental deveria realmente ser uma matéria da grade curricular, pois, ela é tão importante quanto aprender a ler e a escrever. O homem acredita que pode destruir a natureza, o que não é verdade, porque a tudo ela se adapta, espécies somem todos os dias assim comos outras surgem, só a humanidade é que não terá a mesma sorte.

    Resposta

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