Cobertura jornalística sobre a inflação
Pergunta do Momento:
Como o jornalismo econômico nacional tem feito a cobertura da inflação nos últimos tempos – de forma responsável ou sensacionalista?
Em uma análise geral das mídias nacionais, não só da última semana, mas basicamente desde quando começou a estourar a crise americana eu vejo que foi tratada de forma responsável.
Muitos jornais citaram o que isso poderia acarretar de inflação no próximo ano, sem que isso fosse tratado com alarde sensacionalista e sim informativo, o fato é que parte da inflação de 2009 está sendo fabricada agora e o noticiário tem destacado esse fato, o problema é que a mídia se contentou demais com as informações vindas do Governo Federal de que estava tudo sob controle e não haveria maiores danos para o Brasil, de certa forma os danos serão menores do que outros países, mas com certeza acontecerão, depois de percebido esse pequeno erro de confiar muito nas fontes de Brasília que os jornais começaram a ter mais embasamento em suas análises.
A valorizar esse ponto, os grandes jornais definiram o próprio rumo e foram além da cobertura institucional e do mero registro de citações entre aspas. Para tentar elucidar ainda mais o assunto fui atrás de um jornalista de Economia e falei com Paulo Fontoura, que foi repórter de Economia da Gazeta Mercantil e da Zero Hora, além de ser Coordenador de Produção da última. “A imprensa brasileira que cobre economia fica muito atrelada ao que as autoridades econômicas brasileiras vendem. Como os ministros da Fazenda ou o presidente do Banco Central diziam que tudo tinha sido feito para enfrentar qualquer viés da economia e que o país estava imune, nossos colegas foram levados ao erro ou preferiram não polemizar o assunto, se contentando com as informações oficiais. Agora estamos vendo uma busca para reparar o erro e um bombardeio de informações que deixam a todos preocupados e tensos”, explica Fontoura.
É difícil a inflação se manter inercial com muitos fatos importantes ocorrendo em sua volta, nós mesmos podemos observar isso na época do Plano Real, que começou com uma inflação intacta, onde o real valia até mais que o Dólar e a estabilidade de preços era visível, e depois rumou aos preços subirem novamente.
Nos Estados Unidos não é de hoje que economistas e críticos dos presidentes recriminam a política de crédito do país e a possibilidade de agravamento do endividamento interno. O que “explodiu” agora não é mais do que uma seqüência de ações erradas. O aumento de crédito fez com que a camada de baixa renda pudessem adquirir bens de alto valor e chegassem aos mesmos recursos de quem tinha poder aquisitivo na mesma época. Viu-se inadimplentes adquirindo casas da classe média com cheque, por exemplo, e sem entrada. Ao permitir isso, as autoridades criaram uma bola de neve que um dia estouraria. Muitos bancos americanos que pedem ajuda agora, faturaram milhões neste período, repassando recursos federais na época de credito fácil.
Voltando ao Brasil, creio que já não haja muita controvérsia quanto à importância da demanda interna, a soma de consumo privado, investimento privado e gasto governamental, contribuindo com o PIB.
Segundo Fontoura, os profissionais de comunicação deverão ter atenção nas futuras pautas. “O bom profissional deve estar atento ao que acontece na sua área de ação, seja na sua região ou no global. A inflação brasileira tende a se agravar nos próximos meses e o governo, preocupado com a próxima eleição deve buscar antídotos para contar este quadro e evitar a contaminação internacional.”
Até agora a inflação foi tratada como informação nua e crua pelos jornalistas, mas estamos diante de um cenário para os dois tipos de enfoques: o informativo e o sensacionalismo. O ritmo da crise é que pautará a imprensa brasileira.
Texto de Fernando Cunha ©