Uma viagem sem passagem de volta
O primeiro contato foi online. O segundo foi ao vivo. Era véspera de feriadão de carnaval e eles estavam prestes a pular em uma nova jornada.
Cada um descia de seu ônibus, em extremos opostos da rua e conforme caminhavam em direção ao outro o coração palpitava mais rápido. Como ela era linda, aquele cabelo, aquele sorriso, até a forma de andar contagiava. Nesse momento, cada atitude, cada palavra, pode pesar a favor ou contra. A avaliação de como agir deve ser cirúrgica.
Após “boa tarde” e “tudo bem?”, caminharam até o bar que marcaram o encontro. Naquela hora, a cabeça dele já estava a mil. Sem erros, a conquista deve ser precisa. Ele tinha vindo direto do trabalho e ela perguntou: “costuma trabalhar de ônibus? Fica longe da sua casa?”. Ele tinha boas aptidões no sentido da comunicação interpessoal e já entendeu a mensagem. “Ela quer saber se tenho carro”, pensou ele. Com experiência, ele apenas respondeu: “ultimamente sim. Agora estou sem carro”, deixando no ar, para que ela ficasse na dúvida se ele tinha ou não. Talvez aquilo pouco importasse, mas ele não podia atirar a carta errada e perder o jogo de saída.
Entre bebidas e petiscos, a noite foi boa, o papo fluiu, até que na hora certa ele atacou, no bom sentido, e o beijo rolou. As coisas iam dando certo e logo o encanto foi mútuo, era visível.
Será que pode se tornar algo sério? Será que estamos preparados para algo sério? ele pensou. Porém, tinha um problema. Ele estava com viagem marcada com um amigo para o dia seguinte, a noite. Iria passar o feriadão de carnaval na praia, em Santa Catarina. Nós sabemos, feriadão, carnaval, distância, isso poderia esfriar aquele momento.
No dia seguinte, marcaram de se encontrar no final da tarde novamente, pouco antes dele viajar. Parecia inevitável viajar, até porque ele tinha dado sua palavra ao amigo e até mesmo dado os cheques para a companhia de viagem, para pagar o feriadão em Santa. Antes do encontro, ele passou a tarde procurando o amigo que iria junto viajar. Porém, o amigo simplesmente sumiu, ninguém o achava, o celular dava desligado, não estava em casa. Quase no final da tarde, quando já desistia, ele recebeu uma ligação. Era seu amigo, completamente bêbado, não falava nada com nada. Prevendo que a viagem com o amigo alcoólatra começara a dar errado, poderia aquilo ser um sinal? Após dar um esporro no amigo que sumiu e estava fora de si, ele ainda tinha o segundo encontro com aquela mulher maravilhosa, em um parque da cidade.
Ao encontra-la e tudo ocorrer extremamente perfeito, ele alertou a ela que talvez não fosse viajar e explicou a situação, já perguntando que, caso não acontecesse, ela queria passar o feriadão na casa dele, afinal, ela não tinha nenhum plano para o carnaval. Prontamente, ela disse que tinha interesse sim, então coube a ele dar os próximos passos e definir a situação.
Ele havia marcado com o amigo que às 22h se encontrariam para ir ao ponto estabelecido pela agencia de viagem e pegar a estrada. Ele assume que ficou torcendo para que o amigo não aparecesse, afinal, viajar naquele momento poderia significar perder o embalo criado com a mulher que habitava seus pensamentos mais concretos naquele momento. Dito e feito, o amigo alcoólatra não apareceu e a partir dali começava uma virada em tudo que fazia sentido até aquele momento.
A primeira atitude foi contatar um outro amigo: “me empresta o carro? Só vou buscar a futura mãe dos meus filhos e já te devolvo”. Com a resposta positiva, era hora de ligar pra ela: “Seguinte, tudo certo. O feriadão é nosso. Vou fazer compras e depois te buscar, ok?”. Tudo se encaixava maravilhosamente bem. Ele passou no mercado, comprou todo o tipo de comida, besteiras e duas garrafas de Amarula, que ela dizia ser sua bebida preferida. Ao chegar para pegá-la, ela desceu do prédio preparada, com uma mochila de roupas, com o sorriso mais feliz e lindo que ele já viu. A partir dali, ele teve a certeza de que a maior viagem da sua vida estava começando.
O feriadão foi perfeito, de conversas, risadas, passeios, séries, músicas e tudo mais que vocês possam imaginar. O resto é história para próximos textos, mas a viagem ainda segue em percurso e sem prazo para acabar.