O dia em que perdemos Andre Matos, minhas lembranças por mais de 20 anos e seu legado eternizado

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última edição – janeiro/2020

Este é um relato bem pessoal sobre o dia em que o Andre nos deixou e como ele fez, faz e fará parte da minha vida, continuando responsável pela principal trilha sonora de todos os meus dias.

Ontem (08/06/2019) foi um dia cinza não só no céu de Porto Alegre, mas também no sentimento dos que amavam a obra do Ande Matos. Creio que para aqueles que eram fãs de verdade de seu trabalho sempre lembrarão o que estavam fazendo quando ficaram sabendo da notícia.

Minha primeira reação foi não acreditar na morte do Andre Matos

O primeiro a postar de forma oficial foi o Ricardo Confessori, às 14h32, e apenas cinco minutos depois eu vi, exatamente às 14h37, no Facebook. Estava rolando a timeline e me deparo com aquela foto do Andre com uma estrela na data de nascimento e uma cruz na data de hoje (ontem), logo parou tudo, tudo ao meu redor foi desligado de minha atenção foi total naquela publicação que iniciava dizendo “O destino nos uniu, nos separou, nos reuniu e agora pregou mais essa com a gente”. Minha primeira reação foi puxar o ar lá do fundo do peito e pensar comigo mesmo: Não acredito!

Logo após, a minha reação foi: “não se apavore, deve ser alguma pegadinha, alguma montagem de mal gosto que logo eu vou descobri”. A partir daí meu dia parou envolvido com essa notícia. A informação começou a correr rápido e cada vez ficava mais difícil se concretizar minha tese inicial de que não se passava de uma montagem infeliz, de uma brincadeira sem graça. Procurando no Google, sites começavam a publicar, a cada nova busca mais e mais sites começavam a fazer publicações sobre a morte de Andre. Todos eles ainda usavam como base as informações da publicação do Ricardo no Facebook. Na própria rede social mais e mais pessoas clamavam por uma explicação mais concreta, ainda havia esperança de ser um mal entendido, até que a página do Shaman fez a mesma publicação, assim como o Luis Mariutti, o Hugo Mariutti e o Fábio Ribeiro. Nessa hora ficou inevitável acreditar.

Precisávamos de maiores informações sobre a morte do Andre Matos

A partir daí, a caça continuava por informações mais precisas: Morreu como? Qual a causa? Onde ele estava? O que aconteceu?

Muitos outros fãs questionavam fazendo essas perguntas acima, mas ninguém sabia de nada. Começaram a surgir boatos de infarto, ataque cardíaco seguido de arritmias e até convulsões. Alguns diziam que ele estava no Brasil, outros diziam que ele estava na Suécia (onde morou até 2014) visitando seu filho.

A primeira nota oficial veio apenas às 1h05, na madrugada do dia 09/06/19, por meio do Rick Dallal (empresário do SHAMAN / CEO da Free Pass Entretenimento):

“Faleceu na manhã de hoje, 8 de Junho de 2019, em São Paulo, o vocalista da banda Shaman – ANDRE MATOS.

Ainda não foi detectada a real causa da morte pois o corpo do artista continua sob procedimento de autópsia.

Por motivos de privacidade e respeito a dor da família, não serão divulgadas informações sobre velório e enterro. Contamos com a compreensão de todos os fãs que tem acompanhado e dado suporte durante toda a consagrada carreira do Andre, e agradecemos todas as palavras e homenagens de carinho durante todo este tempo, mesmo após este trágico acontecimento, mas agora é hora de preservar a dor e a privacidade da família e amigos próximos que querem ter seus últimos momentos a sós com ele para se despedirem pela última vez.”

Não haverá velório, nem túmulo, ele será cremado

Ainda havia uma esperança que informassem em qual cemitério estaria, para que posteriormente seus fãs pudessem se despedir e visitar como ocorre com outros grandes artistas do meio que já nos deixaram. Essa esperança foi encerrada às 4h41, com uma nova nota, dessa vez na página do Andre Matos no Facebook:

“É com profundo pesar que confirmamos o falecimento do Andre esse sábado de manhã devido a uma parada cardíaca.

Como muitos sabem, ele era uma pessoa extremamente reservada – e manifestou em vida, por mais de uma vez, o desejo de não ter um velório.

Respeitando a sua vontade, ele será cremado hoje com a presença somente dos familiares.

Agradecemos a todos pela compreensão e contamos com vocês para que a memória e o legado do Andre permaneçam vivos para sempre.

Carry on.”

Respeitando sua vontade, não haveria velório, muito menos um tumulo, ele será cremado. A decisão da família deixa uma pontinha de tristeza por não termos nada materializado, nem um tumulo que seja, mas é totalmente compreensível devido ao Andre e também sua família sempre terem sido muito reservados. Se nós sofremos, sua família com certeza sofre ainda mais e deve proceder da forma que julgar a correta, sem indagações ou questionamentos, obviamente.

Nessas quase 14 horas entre a primeira postagem e essa definição quase na manhã de domingo, passaram tantas coisas na cabeça, tantas lembranças. Abaixo tento explicar através de cada uma a importância que a música do Andre teve, tem e terá sempre em minha vida. Como escrevi rapidamente no Facebook ao saber da notícia: “Meu maior ídolo na música se foi. O maior vocalista do metal nacional. Ex Viper, Angra e Shaman nos deixa aos 47 anos ☹ A ficha vai demorar a cair. Fui a 12 shows, 10 em Poa, 2 em SP + uma sessão de autógrafos. Conversamos rapidamente três vezes, temos duas fotos, em breve textão aqui e no blog ☹”.

Apenas um parênteses. Na noite anterior…

Sei que é apenas uma coincidência e não tem nada a ver, mas na noite anterior, não sei exatamente por que, resolvi não tocar minhas tarefas de trabalho. Apenas sentei no sofá com minha esposa, conectei o Youtube na TV e comecei a colocar músicas de todas as fases e bandas tanto que o Andre passou, como as que fez participação especial. Não sei por que, mas eu estava querendo ouvir as lentas, algumas até melancólicas. Ouvimos Bem Aventurados, do Sagrado Coração da Terra, passamos pelas parcerias com o Corciolli, como Who Wants To Live Forever (Queen), por Fiction, do Virgo, por Moonlight (a primeira música que o Andre compôs sozinho), do Viper, Deep Blue e Gentle Change, do Angra, Born To Be, do Shaman, Don’t Let Me Go, do Symfonia, entre outras. Isso tudo me chamou a atenção, por que um dia antes fiquei afim de ouvir as mais lentas, sendo que geralmente prefiro as mais pesadas, é apenas uma coincidência, mas gostaria de deixar o registro aqui.

Como conheci o rock e cheguei até a voz do Andre Matos

Essa história é até curiosa, pois eu comecei a ouvir rock ali na passagem de 11 para 12 anos, em 96 (nasci em maio de 84). Lembro que tinha vivo na minha cabeça que em 94 teve o Hollywood Rock e a principal atração era o Aerosmith, primeira vez que eles vinham ao Brasil, era a tour do Get A Grip e eles tocaram duas noites, em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Na edição de 95, o principal nome eram os Rolling Stones, também era a primeira vez da banda no Brasil e tocaram cinco noites, três em São Paulo e duas no Rio. Quando rolou essa edição em janeiro de 1994 eu tinha 9 anos, faria 10 em maio, não sabia de nada. Na de janeiro de 1995 a mesma coisa, mas a repercussão da mídia parecia tão grande que ficava na minha cabeça os nomes Aerosmith e Rolling Stones.

Na década de 90 as coisas não eram tão fáceis como hoje em dia, onde basta um celular para acessar Youtube, Spotfy, entre tantas outras formas de ouvir música e conhecer bandas. Eu, na minha inocência, pensava que existia apenas Aerosmith e Rolling Stones no mundo como bandas de rock de verdade e o resto que não passavam de umas quaisquer, eu só lembrava da divulgação que elas tiveram em 94 e 95 e isso mostrava a grandiosidade das duas bandas. Foi então que em 96, eu estava com meu pai no supermercado Zaffari da Ipiranga, naquela época o Zaffari vendia Cds, acredite se quiser, então olhando aquelas capas sem conhecer ninguém encontrei uma escrito Aerosmith, era o Big Ones, coletânea da banda na época da Geffen e continha as músicas do Permanent Vacation, Pump e Get A Grip, além de três músicas inéditas. Claro, na época eu não sabia nada disso, eu tinha 11 anos, esse tal de Aerosmith havia sido muito falado na tv meses antes, eles deveriam ser demais, uma banda grande e eu gostava do nome também, ele soava bem aos meus ouvidos.

Bom, já se deve imaginar o que aconteceu, não é?! Como eu enchi o saco do meu pai naquele supermercado para que ele comprasse aquele cd. Ele perguntou se eu queria um chocolate, um salgadinho, um refrigerante, mas não, eu queria de qualquer jeito sair daquele supermercado com o Big Ones debaixo do braço. Após encher tanto o saco, foi o que aconteceu, cd comprado, era a hora de conhecer o tão falado Aerosmith. Ao chegar em casa, pedi o rádio da minha mãe emprestado e me fechei no quarto. Logo simpatizei com Eat The Rich e Dude (Looks A Like Lady), quando tocou Angel minha mãe gritou lá da cozinha: “eu conheço essa”, ok dei uma atenção especial então a Angel. E assim foi, deitado na cama, prestes a completar 12 anos e acompanhando cada letra no encarte do cd. No ano seguinte o Aerosmith lançou o Nine Lives e ali eu já peguei toda a divulgação e singles desde o início. Então, desde esse princípio eu tenho um carinho especial pelo Aerosmith e pelo Steven Tyler, mas isso é assunto para outra história.

A partir daí foi normal ir atrás de novas bandas, eu queria conhecer tudo. Continuei minha investigação musical passando por Stones, Beatles, Led Zeppelin, Black Sabbath, Kiss, Nirvana, Guns, Red Hot Chilli Peppers, entre outros. Nessa época já eram horas e horas por dia na frente da MTV, corridas mensais as bancas atrás na nova edição da revista Bizz e depois da ShowBizz. Os finais de semana eram dias de garimpo, eu ia para a loja Banana Records, no shopping Praia de Belas e por lá ficava horas e horas. Lembro que nessa loja eles disponibilizavam vários discmans e uma unidade de cada cd era aberto para que pudesse escutar e escolher qual comprar. Lá era o lugar certo, eu escutava tudo que era banda e passava tardes e mais tardes lá dentro fazendo isso, lapidando meu gosto musical. Comprei muitos cds na Banana Records. Lembro que nessas idas a loja muitas vezes era na companhia dos amigos Anderson, Rafael e Samuel. Por sinal, com o Anderson tínhamos a mania de quando comprávamos um cd novo já marcava de um mostrar para o outro. Muitas vezes nosso gosto musical não batia muito, mas com certeza essa mania de um dar importância para o som que o outro gostava nos ajudou a respeitar o que é música de qualidade. Muitas vezes não curtimos determinadas bandas, mas sabemos identificar qualidade e mostrar respeito.

Conhecendo o Viper

Como a base musical e as bandas consideradas clássicas já haviam passado pelo meu crivo entre 96 e 97, era hora de partir para novas descobertas. Lembro que jogava futebol semanalmente no ginásio Colosso da Lagoa junto com meu pai na época. Eu tinha 13 anos e além do vício em música eu também jogava muito futebol. Nesse time tinha um goleiro que era do Rock/Metal, as vezes trocávamos uns cds por um tempo, para curtirmos novas coisas, era bem comum isso na época. Acho que na terceira ou quarta troca eu emprestei um disco do Rush pra ele, era o Fly By Night se não me engano e ele me emprestou o Viper, Maniacs em Japan. Eu já tinha ouvido falar de Viper, mas nem imaginava o som que era. Quando escutei aquele cd foi amor à primeira vista, embora eu nunca tenha curtido tanto assim discos ao vivo, aquilo me despertou para ir atrás de algo de estúdio deles e aí sim, numa loja de usados no centro encontrei o Evolution. Naquele momento minha vida mudou, eu descobri que muito mais do rock and roll, o estilo musical que fazia meu coração bater mais forte era o heavy metal.

Para quem realmente gostava de música, os anos 90 tiveram um romantismo diferente na forma de lidar com as músicas. Lembro que cada cd que eu comprava eu me trancava no quarto com som a todo o volume e encarte na mão, enquanto não soubesse cantar todas as músicas eu não sossegava. Com o Evolution do Viper não foi diferente, talvez esse tenha sido o cd que eu mais ouvi na minha vida. Nesse momento, junto com o Aerosmith, o Viper era minha banda do coração. Comecei a ler tudo, procurar de tudo, a cada dia que chegava à meia noite, a internet discada era acionada e eu lia tudo que encontrava sobre o Viper, salvava fotos e então descobri que o Viper tinha um outro vocalista antes do Pit Passarell, um tal de Andre Matos.

Quem viveu essa época lembra que o Viper e o Angra, por causa do Andre, nutriam uma certa rivalidade, coisa que aconteceu mais tarde também entre Angra e Shaman. Pois bem, até aí o Evolution era (e é) o álbum da minha vida e o Viper era a banda do meu coração, sendo assim já que o Viper é a banda que mais gosto, eu preciso ir atrás dessa época anterior, quando o vocalista era esse Andre Matos. Lembro novamente que naquela época era uma dificuldade tremenda ter acesso à música e a internet discada era muito, mas muito lenta. Nessa época, ainda em 97, após tanto ler, eu já sabia que o Andre Matos era atualmente vocalista de uma banda que se chamava Angra e que era muito difícil eu encontrar o Soldiers of Sunrise e o Theatre of Fate do Viper, ambos com o Andre cantando.

Conhecendo o som do Angra

Bom, o meu garimpo nessa época já tinha um pouco mais de opções, eu ia a várias lojas de usados no centro. Porém, o meu primeiro contato com o Andre foi mesmo na Banana Records. Vasculhando os cds atrás de algum que eu pudesse ouvir o cara cantando encontrei um do Angra, uma capa bonita, vermelha, com um anjo. Era o Angels Cry. Então, fone no ouvido e cd no discman. Quando começou Unfinished Allegro, aquilo já me causou um certo impacto. Música clássica? Hmmm, legal. Aí logo depois começou a porradaria com o início de Carry On e minha reação em voz baixa foi “eita porra”, quando o Andre começa a cantar então, eu pensei: “nossa, muito bom!”, mas tinha uma coisa que quando a gente é novo e imaturo me veio à cabeça: eu não posso gostar desse cara, eu gosto é do Viper com o Pit Passarell, esse cara saiu da banda. As vezes temos essas bobagens. Eu comprei o Angels Cry nesse dia, minha razão dizia que eu não podia gostar, por que ele havia deixado o Viper, mas meu coração já dizia: “esse louco canta pra caralho!”. Chegando em casa eu dissequei o cd como fazia com todos né, passei a gostar muito de Time, Angels Cry e Stand Away, mas a birra idiota e a infantilidade faziam com que eu não pudesse dar o braço a torcer: eu gosto é do Viper.

Não me lembro bem se foi no final de 97 ou início de 98, mas teve em Porto Alegre uma feira de cds na Praça da Alfandega, no mesmo lugar onde ocorre anualmente a Feira do Livro. Não lembro também quem estava comigo, se era o Anderson, o Samuel ou o Matheus, mas sei que nessa feira tinha um estande que tinha vários discos da Paradoxx Music, entre eles os cds do Angra: Holy Land, Holy Live! e o Freedom Call. Além disso, uma edição especial da Paradoxx contendo o Soldiers of Sunrise e o Theatre of Fate do Viper em um só cd. Eles não eram caros e o resultado: levei todos!

Chegando em casa corri para o quarto, eu tinha um grande estudo a fazer, começando pelos principais na época, os discos do Viper. Eu já conhecia algumas músicas do Maniacs in Japan, mas na voz do Pit. Parecia tão diferente na voz do Andre, e realmente era. Não parecia tanto com o Evolution do Viper, talvez fossem até mais semelhantes com o Angels Cry. Mas tudo bem, eu seguia minha birra idiota, não podia gostar, por que ele não era mais do Viper. Toda essa babaquice durou mais algumas hora, até eu abrir o Holy Land. Logo de cara, aquele mapa do encarte, o que é aquilo? Que coisa maravilhosa. Aquele baita encarte, com um mapa, com as letras. O encarte do Holy Land realmente me impactou. Quando comecei a ouvir as músicas, Nothing To Say, Silence and Distance, aquela obra chamada Carolina IV, enquanto ouvia a música Holy Land eu já estava começando a dar o braço a torcer, até que o Andre começa a cantar Make Believe. Naquele momento tudo mudou, eu era capaz de amar o Evolution do Viper e ao mesmo tempo assumir que ouvir o Andre cantar era das coisas mais sensacionais que eu já tinha escutado. Até hoje o Holy Land é o disco do Angra que mais gosto.

Em novembro de 1998 o Angra iria fazer show em Porto Alegre, era a tour do Fireworks lançado em julho do mesmo ano. Eu tinha 14 anos nessa época e vontade de ir era grande, porém eu era muito novo, acabei convencido de deixar para a próxima, uma próxima que eu nunca mais teria a oportunidade. Nem sabia também se existia faixa-etária para o show. Mesmo assim, acabei deixando passar.

No início de 99 comprei o Fireworks e o single de Lisbon, que era um cd bem bonito, com metade dele transparente e com a assinatura de todos os membros da banda, era muito legal aquele cd. O clima na época do Fireworks já não era dos melhores e pouco depois do final da turnê, em Agosto de 2000, Andre, Luis Mariutti e Ricardo Confessori deixam o Angra.

Eu já gostava muito de Angra e começava a me interessar principalmente pela carreira do Andre Matos. Quando eu soube do termino confesso que logo pensei: “mas de novo esse cara vai sair de uma banda após chegar ao sucesso?”.

Sem o Angra, era hora de ir atrás de outras coisas antigas e participações do Andre com outras bandas. Lembro novamente que naquela época não era tão fácil encontras as coisas, mas achei na internet os demos Reaching Horizons e Eyes of Christ, o EP Evil Warning, o acústico na FNAC de Paris, onde apenas o cover de Wasted Years do Iron Maiden eu não tinha ouvido, as versões de Angels Cry, Chega de Saudade e Evil Warning já tinham nos bônus do Freedom Call, até aquela versão de Carry On acústica em Buenos Aires eu encontrei, mas como era difícil baixar. Lembram daqueles compartilhamentos de arquivos (ou ficheiros)? Baixei tudo usando a internet discada, se não me engano foi através do Emule na época ou algum programa parecido com ele. Nessa época tudo era difícil na internet. Podia baixar aos poucos os mp3 e lembro que levei uns dez dias para baixar tudo, sempre usando apenas depois da meia noite e finais de semana. Na época em que tudo era mato na web, a internet mais barata era apenas entre meia noite e seis da manhã, pois era utilizada através do telefone residencial que entrava na rede e assim gastava apenas um pulso (mas isso é outra longínqua história).

Looking Glass Self e mais participações

Em 2000 o Andre gravou como vocalista do Looking Glass Self o EP Equinox, contendo quatro músicas. Essa banda era do Alex Holzwarth, baterista do Rhapsody. Para quem não sabe, o Alex gravou a bateria no Angels Cry, do Angra. Nessa época eu conheci apenas a faixa título e Stigmata, mas o som era diferente do que eu tinha acostumado a ouvir. Diferente também era a pequena participação do Andre com a banda de thash argentina Nepal, na música Perfil Sinistro, em 97, e com a banda alemã progressiva Superior nas músicas Detect Myself e Why, em 98. Também em 98 teve I Believe Again, com os italianos do Time Machine.

Estou citando tudo isso por lembrar que nessa época eu já fazia parte dos fãs fiéis do Andre. Cada música dessas foi uma alegria quando eu achava, numa época em que era mais difícil esse acesso. Minha busca seguia e quanto mais procurava, mais participações do Andre eu achava. Por volta de 2000 descobri Another Night Get’s Longer, do Rodrigo Alves, gravada em 97, com os vocais divididos entre Andre Matos, Edu Falaschi (que entraria no Angra em 2001, após a saída de Andre) e o Christopher Clark (que viria ser o vencedor da primeira edição do X Factor Brasil, em 2016). Hoje em dia minha esposa Camila ama Another Night Get’s Longer e faz parte do set list tocado no carro.
Entre 2001 eu continuava sendo um bom investigador, comprei o Planetude, do Holy Sagga, só para ouvir Fight For Survival, com participação do Andre, assim como o brasileiro Hamlet – Willian Shakespeare’s, consegui também baixar The Spreech, do Karma, onde os vocais eram divididos entre o Andre e o Thiago Bianchi (que depois seguiria o Shaman junto com o Ricardo Confessori, depois Noturnall) e também as participações com o Sagrado Coração da Terra nas músicas Terra e na linda Bem Aventurados.

Virgo e Avantasia

Ainda em 2001 saiu o cd do Virgo, um projeto paralelo entre Andre e o Sascha Paeth. O cd foi lançado no Brasil pela Century Media, se não me engano, e obvio, fui correndo comprar. Na época comprei na Zeppelin eu acho, loja do Alexandre Nascimento. Que cd sensacional, diferente, ele mostrava que o Andre era muito mais que um vocalista de heavy metal melódico. Como bônus, vinha o clipe de Baby Doll para ver no computador, como eu via aquele clipe.

Nessa época eu já ia na Zeppelin e na A Place com certa frequência, lembro que em uma dessas idas na Zeppelin, acho que no final de 2002 o Alexandre, sabendo que eu gostava de metal melódico, me mostrou um lançamento: Avantasia – The Metal Opera Part II. Eu aceitei a dica e comprei. Chegando em casa logo me apaixonei, que disco! Comprei camiseta e tudo que tenho até hoje. A participação do Andre estava muito bem nesse álbum. Mas aí, tive que voltar na loja para comprar a Part I, lançada no ano anterior. Provavelmente o Alexandre não lembre disso, mas ele não tinha o Avantasia Part I e eu brochei, “Putz, cara. Desculpe incomodar, mas eu preciso muito desse cd”. Ele respondeu algo como “tudo bem, sempre tem os Fernandos da vida atrás de cds que já foram todos vendidos. Eu encomendo um pra ti. Te aviso quando chegar”. Valeu a encomenda, a Part I era outra obra prima e a participação do Andre novamente foi sensacional.

Início da era Shaman – Ritual e Ritualive

Um pouco antes de terem saído essas músicas em 2001 e também o álbum do Virgo, no primeiro semestre de 2000, após conversas e reuniões, que contaram com o incentivo do Paulo Baron, o Shaman estava formado. Banda que levaria o Andre a uma fase de considerável exposição, principalmente no Brasil, já que a banda foi muito trabalhada no território nacional.

Lembro que em maio de 2001, mais precisamente 8 de maio, o Shaman teve seu primeiro espaço na tv, tocando no programa Musikaos, comandado por Gastão Moreira. No programa, a banda tocou três músicas: Time Will Come e For Tomorrow, do Shaman, e Carry On, do Angra. Mesmo com as duas músicas do Shaman ainda em versão demo, a repercussão foi ótima, todos os fãs querendo saber como seria a banda dos ex-integrantes do Angra.

Em janeiro de 2002 iniciaram as gravações do primeiro álbum da banda, intitulado “Ritual”. O album foi muito bem recebido no Brasil e foi lançado em mais de 15 países. A “World Ritual Tour” durou um ano e meio e passou por vários lugares do Brasil, Ásia e América Latina e Europa. Foram mais de 130 shows neste período.

Lembro que a tour do Ritual passou mais de uma vez em Porto Alegre. Eu tive a oportunidade de ir em todos os shows na capital. Desde que conheci a obra do Andre e me identifiquei, eu enchia o saco de todo mundo mostrando músicas em que ele cantava. Com o lançamento do Ritual, sempre que havia oportunidade eu mostrava o Shaman. Vale lembrar também que nessa época, em 2003, eu ainda usava uma máquina fotográfica com rolo de filme. Era comprar o filme de 36 poses e ar até o Shaman e encher a banda de cliques.

Entre idas e vindas ao trabalho como estagiário e ônibus lotado dia sim e o outro também, uma coisa era clara: o Ritual tomando conta do meu discman.

Outro fato marcante foi que em agosto de 2002, a música Fairy Tale, sétima faixa do disco, entra na trilha sonora da novela “O Beijo do Vampiro, da Rede Globo. Esse fato fez do Shaman a primeira banda de heavy metal brasileira a ter uma música em uma novela global e fez com que muitos fãs ficasssem grudados na trama de vampiros, humor e fantasia da novela.

Em 2003 a banda realizou a gravação no Credicard Hall (SP) do DVD Ritualive com a participação de vários convidados especiais (Tobias Sammet, Marcus Viana, Andi Deris, Sascha Paeth, George Mouzayek e Michael Weikath). O novo trabalho, saiu em CD e DVD, intitulado Ritualive, recebeu ótimas críticas e vendeu muito bem. Fora isso, a gravação e estrutura do show foram memoráveis. Eu passei por muito tempo assistindo o Ritualive.

Nessa época eu fazia a faculdade de ciências contábeis e diversas vezes lembro de ficar fazendo trabalhos, fechando balanços, etc até altas horas enquanto tocava o Ritualive no DVD, na tv que tinha em meu quarto. Esse DVD foi tão importante, não só pra mim, que até hoje é considerado um dos registros ao vivo melhor produzidos no país.

Rockgol e Mystic Fire – minha banda inspirada no Andre

Em 2004, o Shaman seguia em uma crescente de venda e exposição. Um ponto que contribuiu com isso foi o Rockgol, campeonato de futebol disputado por músicos, organizado e exibido pela MTV Brasil. A narração e os comentários dos jogos ficavam a cargo da dupla humorística Paulo Bonfá e Marco Bianchi que de forma irreverente narravam as partidas apelidando os jogadores/músicos. Diante dessa brincadeiras sobrou para o Andre, apelidado por eles como Musa Nissei-Sanssei. O apelido pegou na época entre os telespectadores, assim como o de Jesus ao Luis Mariutti e de Jesus Júnior ao Hugo Mariutti.

Nessa edição de 2004, o pessoal do Shaman, juntamente com a galera do Br’Oz, Felipe e Rappin’Hood formaram o time Aranhas Negras que sagrou-se campeão do torneio, dando ainda mais exposição para a banda e para o Andre no Brasil.

Com certeza o Ritual marcou época, marcou minha vida e até hoje é um dos álbuns que mais mexe comigo em todos os sentidos.

Para se ter ideia desse impacto Andre Matos que já estava fixado em minha vida, tive um projeto de banda com os amigos Anderson, Samuel e Ismael. Todos sabiam tocar alguns instrumento, menos eu. Como eu era amigo e sempre fui muito observador na maneira dos vocalistas cantarem, principalmente o Andre, logo fui alçado a vocalista. Na verdade não se passava de um vocalista de chuveiro, mas por muito amor a música, vozes, canções, melodias e meus parceiros fossem ainda piores, mas pelo menos tocavam alguma coisa, então caiu no meu colo essa “oportunidade”.

No fundo, era minha chance de ser o Andre Matos, mesmo que fosse em um quartinho que tinha nos fundos da casa do Anderson. Aquele era nosso QG, onde o set list era formado 80% por músicas cantadas pelo Andre originalmente e na verdade não passava de um momento de descontração ouvindo e “brincando” com coisas que gostávamos. Não é à toa a influência do Andre que o projeto de banda logo foi denominada por mim de Mystic Fire, já que na época a crítica musical rotulava o Shaman como uma banda de mystic metal. Até uma camiseta enchi o saco para que minha mãe fizesse escrito Mystic Fire no peito e eu ia com ela em festas e shows de metal pela cidade, todo orgulhoso.

Chegamos a escrever três músicas próprias e fazermos os arranjos. Foi uma brincadeira sadia, eu tinha 19 anos, em uma época marcado por tentarmos tocar e cantar músicas como Make Believe, Stand Away, Living For The Night, entre outras.

Reason, autógrafo e foto passando pela segurança

Em 2005, pouco antes do lançamento do álbum Reason, foi anunciada uma alteração no nome da banda que passou a contar com mais um A, passando a se chamar Shaaman. Até hoje os motivos não foram muito bem explicados, no início falou-se em problemas jurídicos, anos depois o baterista Ricardo Confessori chegou a citar o fato de uma consulta com um numerólogo para que a carreira da banda decolasse ainda mais, enfim, o acréscimo do A não alterava a forma da pronuncia do nome.

Reason apresentava uma banda com o som mais direto e um pouco mais sombrio. Alguns fãs no início viraram um pouco a cara, mas com o passar do tempo o álbum foi melhor compreendido. Reason mostrava uma banda mais madura, sem medo de inovar.

Em Porto Alegre, na semana de lançamento a venda era exclusiva na livraria Cultura, no shopping Bourbon Country. Lembro que no lançamento tive que sair na minha hora de almoço do serviço no centro da cidade e correr para uma parada de ônibus para chegar até a Cultura e adquirir o meu. Aquele dia foi muito corrido, era a ansiedade de ouvir o novo trabalho dos caras, aliado a minha agonia na ideia de não conseguir voltar em uma hora para o trabalho. No final, tudo certo. Reason em mãos, era torcer para acabar logo o expediente e eu poder ouvir no meu inseparável discman.

Semanas depois a banda veio até a livraria Cultura para uma sessão de autógrafos. Lá fui eu novamente ter meu primeiro contato com eles e principalmente com o Andre. Além de papel e caneta em mãos, também levei minha máquina fotográfica, munido do meu filme de 36 poses. Na época algumas pessoas aos poucos já iam comprando máquinas digitais, mas eu ainda não havia podido comprar uma, então o jeito era confiar no filme de 36 poses, torcer para o enquadramento estar certo e a imagem na hora de tirar a foto e principalmente rezar para que a foto não saísse queimada. Já eram os anos 2000, mas minha máquina da década de 90 quebrou muito o galho. Minha não, da minha mãe, mas que sempre me emprestava e apoiava nas peripécias.

Na maioria das vezes é um pouco estranho você chegar perto de um ídolo, a gente não sabe o que vai falar, muitas vezes como vai agir, principalmente quando se tem na casa dos 20 anos. Eu, sinceramente, não lembro o que falei nesse dia, o Andre estava um pouco mais quieto e daí eu travei ainda mais. Na verdade eu já tinha falado rapidamente com ele após um show no Opinião, onde ficamos um bom tempo esperando eles voltarem ao palco para autógrafos, etc. até nesse dia peguei autógrafo no Ritual, mas era de longe, sem um momento maior de interação.

Nessa sessão de autógrafos do Reason não era permitido posar para fotos. A intenção ali da produção era que cada uma das pessoas pegasse seu autógrafo rapidamente e a enorme fila indiana andasse, seguisse o fluxo. Nesse dia fui com um amigo, o Rafael, vulgo Chapolin, e armei um plano infalível, pelo menos parecia infalível. Combinei com o Chapola, “quando der uma brecha eu vou na direção do Andre (que estava na ponta da mesa), fico ao lado dele e você taca o flash na máquina”. Bom, de certa forma deu certo. O Andre saiu um pouco assustado na foto e logo os seguranças vieram me tirar rsrsrs mas fica o registro. Nesse dia saí com o Ritualive e com o Reason autografados, além de uma foto tirada no susto com meu ídolo.

Rádio da faculdade e Andre “sócio” do programa

Nessa mesma época eu tinha um programa de heavy metal na rádio da faculdade onde eu fazia jornalismo, no IPA Metodista. Tive por três anos o Caverna do IPA. Na primeira temporada eu apresentava sozinho, rolava músicas e eu levava entrevistados, mas na duas temporadas seguintes o programa de uma hora e meia se dividia entre notícias, músicas e contava com a participação do meu amigo e professor de rádio na época, o Paulo Finger.

Essa lembrança é legal, por que era muito engraçado. Obvio que nesses três anos rolavam as mais diversas músicas contendo o Andre, e não se limitava em Viper, Angra e Shaman. Vários sons com participações dele como Avantasia, Aina, Avalanch, Luca Turilli, Thalion, entre muitas e muitas outras oportunidades eu arranjava para incluir a voz do cara que eu mais admirava musicalmente. Diante de tantas aparições, ali pela metade do segundo, o Paulo Finger, já acostumado com tantas vinculações começou a chamar o Andre de sócio do programa hahaha. Como eu que fazia o roteiro e escolhia as trilhas sonoras, meu parceiro de rádio sempre era surpreendido por um “e agora, Paulo. Vamos ouvir o Shaman com…” determinada música. Ou “agora vamos ouvir a banda tal com a participação do Andre Matos”. Lembro que era muito engraçado o Paulo dizendo ao final desse meu anúncio: “lá vem ele, Andre Matos, o sócio do programa, o cara que toda a semana está aqui”. Era muito legal. Bons tempos!

Revistas de Heavy Metal e compra do Aina

Algumas lembranças da adolescência permanecem vivas em nossa cabeça. Em um momento de luto com esse diversas coisas pairam em nossa mente. Me peguei lembrando da década de 90, do finalzinho dela, eu com meu 14, 15 anos, indo mensalmente em bancas de revistas e folheando rapidamente a Bizz, a Rock Brigade, a Roadie Crew, a Valhalla que existia na época na esperança de que saísse algo sobre o Andre ou sobre o Angra, naquela época. Até hoje é assim, tenho várias revistas ainda guardadas, muitas se perderam no tempo, mas ainda possuo algumas. Era uma época mais ingênua de nossas vidas, não tão frenética como hoje. Conseguíamos ser mais românticos com coisas que gostávamos, sentíamos mais prazer em folear uma revista, o encarte de um cd, fazermos aquelas coletâneas em fitas tanto K7 como no VHS ou até mesmo colocarmos a agulha no ponto certo do vinil.

Em 2003 tinha saído o Aina, na época eu via como algo tipo o Avantasia só que um pouco mais direto, digamos assim. Bom, lembro de que eu estava no centro da cidade com alguma grana (pouca grana) para comprar um livro para a faculdade. Como de praxe, quando ia ao centro eu levava alguns cds que eu não ouvia mais ou que comprei e não gostei para trocar em lojas de cds usados, algo muito comum nos anos 90 e 2000. Ao entrar em uma dessas lojas me deparo com o Aina, ali lindo, triplo, uma caixa grossa, com um super encarte. Noooossa!!!! Preciso levar. Ele era bem caro para a época, mas não hesitei em mostrar os cds que eu havia levado para trocar. O cara não curtiu muito o que eu tinha, nem lembro o que era na época, mas eu fui obrigado a insistir muito, até que fechamos negócio, eu deveria dar os cds que eu havia levado e mais o dinheiro do livro que eu deveria comprar. Bom, a oportunidade não bate duas vezes na porta né? O livro eu poderia adquirir em outro momento. Ao chegar em casa, o livro que eu li foi aquele encarte maravilhoso do Aina. O livro da faculdade teve que esperar uma outra oportunidade.

Saída do Shaman e início da carreira solo

Lembro que do meio para o final da turnê do Reason já se falava em um novo álbum. Rio era uma música que a boataria dizia que teria no novo álbum, etc. Mas, pelo menos para mim, foi um baque o final do Shaman, digo final por que para muitos foi marcado como um final. Os músicos que seguiram com o nome da banda, junto do Ricardo Confessori, eram bons, mas não tinham a exposição do Andre e companhia. Eu não esperava aquilo e a sensação pela saída do Andre, junto do Hugo e do Luis, era de que novamente vivenciaríamos a história do Viper e do Angra. Eu realmente fiquei bem chateado na época, pois diferente do Viper e do Angra, eu tinha vivido, intensamente, o início do Shaman desde sua formação até seu declínio em 2006.

Bom, se essa era a realidade, o momento era de juntar as feridas e acompanhar notícias e comunicados que saiam para entender o que aconteceria a partir dali. Talvez cansado de novos projetos e nomes de bandas, Andre resolveu seguir carreira solo, mas que na verdade era uma banda com seu nome, já que todos os integrantes sempre saiam em fotos, nos encartes de cd, revistas, etc. Luis, Hugo e o Fábio Ribeiro (tecladista do Shaman) seguiram com Andre, que ainda convocou um segundo guitarrista, Andre Hernandes, da primeira formação do Angra, e Rafael Rosa para a bateria.

O lançamento de Time To Be Free, em 2007, ainda soava um pouco como Shaman e realmente, continha Rio, a música que a falavam que seria do terceiro álbum do Shaman. Como não teve, essa e outras canções que vinham sendo trabalhadas entraram em Time To Be Free.

Após, vieram ainda os álbuns Mentalize e The Turn Of The Lights. Bons álbuns.

Symfonia e suas peculiaridades

Entre os lançamentos de Mentalize (2009) e The Turn Of The Lights (2012), em 2010, o guitarrista finlandês Timo Tolkki (ex-Stratovarius) anunciou o surgimento de um novo supergrupo que além de Tolkki, contava com Jari Kainulainen (ex-Stratovarius, Evergrey), Mikko Härkin (ex-Sonata Arctica), Uli Kusch (ex-Holy Moses, ex-Gamma Ray, ex-Helloween, ex-Masterplan) e quem era o vocalista? Sim, Andre Matos. Na época ele morava na Suécia e tinha a vida consolidada por lá com a esposa e um filho.

Uma grande expectativa foi criado entre os fãs de metal, já que, além de um time de peso, Tolkki costuma a fazer postagens e dar muita declarações sobre o andamentos das composições e gravações. Como a vez em que ele comentou que estavam gravando os vocais em uma cabana no topo de uma montanha em meio a uma floresta na Suécia. Segundo ele, essa cabana era assombrada e houveram alguns atrasos devido ao Andre estar cantando nos últimos anos apenas na presença da pintura ‘Madonna of Port Lligat’, de Salvador Dali e transportá-la de São Paulo para a Suécia levou alguns dias. Entre essas peculiaridade, outras foram descritas nessa publicação feita no blog sobre o Symfonia que o guitarrista mantinha na época.

Bom, o álbum de estreia, intitulado In Paradisum, foi lançado em 2011 e a banda realizou uma turnê mundial, incluindo passagem com diversos shows pelo Brasil. Infelizmente, a banda encerrou as atividades alguns meses  depois, após Tolkki informar que estava se aposentando e sair falando mal de alguns integrantes e situações vivenciadas.

O álbuns rendeu alguns bons momentos e a música de trabalho escolhida, “Don’t Let Me Go”, é uma linda balada.

Retorno do Viper, shows e meet&greet

Em 2012, o Viper anunciou a turnê To Live Again Tour para comemorar os 25 anos do álbum Soldiers of Sunrise, onde tocaram pela primeira vez na íntegra os álbuns Soldiers of Sunrise e Theatre of Fate. Nossa! Eu fui ao céu. Era o retorno, mesmo que para apenas uma turnê, da minha banda do coração e ainda com o retorno do Andre aos vocais. Na verdade aquele momento envolvia muito mais que isso. Era uma sensação boa vê-los reunidos, todos em paz, com amizade e proximidade retomada. Isso foi muito legal na época, eles conversando, convivendo. Eu, como fã da banda, fiquei muito feliz naquele momento do anúncio.

Claro, o Andre já havia participado o disco All My Life, do Viper, em 2007, mas aquela reunião era diferente. A formação então para a turnê teria o Pit Passarell, o Felipe Machado e o Guilherme Martin, além do guitarrista Hugo Mariutti (Shaman e Andre Matos solo) que tocaria no lugar de Yves Passarell (ex-Viper, Capital Inicial), que faria algumas participações quando a agenda do Capital inicial permitisse.

Ainda em 2012, foi fantástico ver o Viper com essa formação no programa Altas Horas, da Rede Globo, tocando Living For The Night e o Andre cantando Rebel Maniac, que depois seria figurinha carimbada como bônus nas apresentações ao vivo.

Nesse mesmo ano a banda veio a Porto Alegre. O show foi no Teatro do Ciee e havia a possibilidade de Meet&Greet. Obvio que não hesitei, era a oportunidade de ver a passagem de som e após o show conversar com os membros, pegar autógrafos, tirar fotos, etc. Lembro que nesse dia cheguei ainda a tarde no teatro e após ver a passagem de som consegui conversar rapidamente, na rua, com o Pit, Felipe, Guilherme e Hugo. Era uma tietagem legal, com educação, sempre, mas rolou algum papo e outro, com fotos, etc. foi bem legal.

Ao final do show, quem havia comprado o Meet&Greet deveria continuar no local que a banda voltaria. Foi o que aconteceu. Após alguns autógrafos e mais fotos, pouco depois chegou o Andre, devagarinho, sentou um pouco afastado e lentamente os fãs começaram a ir até ele, em fila. No momento em que chegou minha vez, pense na situação: o Andre sentado em uma cadeira na plateia do teatro e uma ao lado dele vazia aguardando que eu ali sentasse. Putz, nessa hora a gente nem sabe o que falar, né? Aí é meio louco, por que você quer falar tantas coisas, até agradecer por todos os momentos que o cara te proporcionou com a arte dele e não sai nada. Eu sinceramente nem lembro o que falei, acho que fiquei tão embasbacado com a oportunidade que não falei nada. Com certeza eu não deixei transparecer todo o agradecimento que eu tinha por ele e pela música dele ao longo dos anos. Esse é um dos arrependimentos que tenho. Eu não me programei muito bem para o que deveria ser dito e no fim, não disse praticamente nada, só algo protocolar como “tudo bem?”, “Parabéns pelo show”, ”estava muito bom” , “posso tirar uma foto com você?”. E foi isso. Pouco né? Também acho. Deixei passar uma oportunidade legal e que infelizmente não tive outra.

Após essa turnê, a expectativa caía sobre o lançamento do DVD ao vivo To Live Again Tour, porém ele demorou a sair devido a alguns problemas e só foi lançado no meio do ano de 2014. Mas, antes disse, nós, fãs do Andre, fomos recompensados com outra notícia sensacional. Como em 2012 ocorreu o lançamento de The Turn Of The Lights, Andre estava em turnê de seu álbum solo também e no mês de setembro de 2013 tivemos um prêmio e tanto: Andre no Rock in Rio e Viper também no Rock in Rio. Na verdade, o dia do metal na edição 2013 do festival contou com parceria no palco sunset e a apresentação foi dividida. Na primeira metade, Andre Matos solo com sua banda cantando sucessos de sua carreira e na segunda metade era com a galera do Viper. Que dia sensacional para o Rock in Rio foi aquele.

Sendo assim, nesse momento tínhamos em 2013 o Andre e o Viper no Rock in Rock e em 2014 o lançamento do DVD ao vivo da To Live Again Tour. Na verdade tínhamos ali, em dois momentos, gravadas pela eternidade as cenas daquela reunião marcante e histórica.

Ainda sobre essa reunião, em maio de 2016 eu estava em São Paulo levando a família para conhecer a cidade. Um adendo: eu amo São Paulo, já fui mais de 30 vezes para a cidade, seja a trabalho ou a passeio e sempre que possível tento retornar. Adoro estar em Sampa. Bom, em uma dessas viagens, levei minha família junto e por coincidência (ou não rsrs já que eu armei a data certa para ir) teria show do Viper em Santo André, no Sesc. Eu já havia comprado ingresso para todos nós pela internet e no dia fomos de Uber da Vila Mariana até Santo André. Foi um show bem legal e após a apresentação lembro do Andre voltando ao palco, conversando com o pessoal que estava bem na frente do palco, inclusive eu, e dando risadas, ele estava feliz, eu também.

Calendário Veg e turnês comemorativas

Anualmente é lançado o Calendário Veg, onde 12 personalidades estampam as páginas promovendo um apoio a causa animal. Na edição de 2016, uma das páginas era estampada por Andre Matos, que na foto estava com seus quatro cachorros adotivos: Naná, Samantha, Marieta e Tom. Na época achei muito legal, já que eu me identifico muito com a causa e não como carne de panela e churrasco desde meus sete anos de idade, justamente pelo apoio a causa animal, embora eu ainda não consiga largar embutidos, mas essa é uma outra história.

Tanto a causa vegetariana, como a vegana, vem crescendo muito nos últimos anos e o desejo é que a indústria da carne e da mortandade animal para o deleite do ser humano deixe de existir um dia. Fiquei bem feliz em ver o Andre apoiando a causa.

Voltando a música, em 2013 Andre partiu em uma turnê em comemoração aos 20 anos do álbum Angels Cry, do Angra. Foi um sucesso, eu fui em alguns shows e devido a esse sucesso logo vieram turnês em comemoração aos 20 anos do Holy Land e aos 30 anos de carreira do Andre Matos. Essas duas últimas não passaram em Porto Alegre e não fechou de eu poder ver nenhuma em São Paulo.

Para essa turnê de 30 anos de carreira, mesmo eu não tendo a oportunidade de ir, lembro que contribuí de alguma forma, já que os fãs que votariam nas músicas que deveria estar na turnê. Dentre 110 opções colocadas em votação e que abrangiam toda a carreira do vocalista nas bandas Viper, Angra, Shaman e Andre Matos, além de suas participações em projetos como Virgo, Avantasia e Symfonia. Havia a possibilidade que músicas nunca antes executadas ao vivo pudessem ser tocadas. Lembro que na época dessa votação minha sogra estava internada no hospital com algumas complicações e foi de lá que eu votei, de dentro do hospital com ela e minha esposa presentes. No final deu tudo certo, tanto com a sogra, como na escolha das músicas.

Volta do Shaman. Ir ou não ao show em São Paulo?

Em maio de 2018, bem próximo do meu aniversário, foi anunciado um show de reunião do Shaman. Era a volta com a formação clássica para um show, em setembro, em São Paulo. Essa reunião se deu muito pelo grupo de fãs da banda no Facebook. A hashtag #voltashaman que usávamos criou forma e chegou até os integrantes. A banda mesmo assumiu que a força de milhares de fãs que deu força para que a reunião acontecesse. Em tempos de redes sociais foi legal ver essa movimentação, principalmente por ter conseguido seu objetivo.

Quando os ingressos começaram a ser vendidos para o show na Áudio eu fiquei em dúvida se iria ou não, se eu deveria esperar mais um pouquinho para ver se o show seria anunciado em Porto Alegre, já que de uma apresentação, logo surgiu uma segunda data na própria Áudio e depois mais três shows (Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro).

Bom, lembro que estava com a família na garagem de casa, fazendo um churrasco e levantei o assunto: “E o show do Shaman. Vamos?”. Eu adoro fazer essas coisas com minha esposa Camila, mas nossa filha Isabela estava com pouco mais de um ano e seria complicado irmos, já que mais de uma pessoa teria que ir para ficar de babá da pequena. Como eu era o único fã ali ficou complicado encontrar adeptos hehe minha irmã refugou, minha mãe inicialmente também e o marido dela também. Com o aval da patroa, eu iria sozinho mesmo, sem galho. Mas, minha mãe voltou atrás e disse: “Eu vou contigo!”. Foi na hora, já abri o site da freepass e comprei dois ingressos. Isso era uns três meses antes. Parece uma coisa tão simples, mas hoje lembro desse momento com carinho. Eu estava na dúvida se iria até SP ou não, mas sorte que comprei, seria o último show em que veria o Andre.

Chegando mais próximo do dia, minha mãe, por conta dos compromissos dela teve que declinar. Aí pensei no meu pai, que não curte em nada esse tipo de som, mas ele não conhecia São Paulo, nunca tínhamos pegado um avião juntos. Parecia uma boa ideia. Convidei ele dizendo que era tudo por minha conta, que seria legal para nós como pai e filho e ele topou de primeira. Chegamos em São Paulo um dia antes, lembro que comi algo no almoço que não me fez bem e passei todos os dias mal do estomago na terra da garoa, mas isso é outra história. No dia e horário do show estávamos lá, apostos. Comprei todos os merchandising disponíveis e curtimos o show de retorno aos palcos do Shaman, na Áudio. Foi uma baita show! Ritual e Reason na integra, mais de duas horas de apresentação. Hoje agradeço muito por ter ido, ainda bem que fui. Foi maravilhoso e foi a última vez em que vi o Andre ao vivo.

Homenagens póstumas

No dia 12 de junho, uma semana após o falecimento de Andre, o seu irmão Daniel Matos e o primeiro, Eco Molitermo, falaram com exclusividade ao UOL e deram mais detalhes sobre o ocorrido e como foram as primeiras horas posteriores ao fato. Como fãs, foi bom saber mais informações, pois estava tudo muito fechado, sabíamos de fato pouca coisa. O UOL, por final, foi o veículo de imprensa que mais foi atrás de informações e fez conteúdos realmente relevantes, ganharam meu respeito, pois deram valor ao fato e a essa perda imensa.

A forma reservada e discreta com que Andre levava sua vida pessoal foi respeitada por sua família, por isso obtivemos poucas informações nas primeiras horas e até mesmo nos primeiros dias. Embora aquilo nos fizesse mal, já que queríamos informações e notícias, não devemos de forma alguma sermos egoístas nessa situação e devemos respeitar os fatos e, acima de tudo, a dor da família.

No dia 15 de junho, marcada pelo Felipe Machado (Viper) foi realizada uma missa de sétimo dia em São Paulo. Como não ouve enterro, essa missa foi tratada como uma despedida para os fãs e amigos. Realmente foi lindo! Pensei rapidamente em ir, mas estava muito em cima, eu não conseguiria me organizar com passagem, etc. Restou ver as repercussões pelas redes sociais e vídeos pelo Youtube. Foi uma mar de gente homenageando Andre, com direto a músicas do Viper, Angra e Shaman tocadas pelos amigos dessas bandas presentes. Por sinal, o Rafael Bittencourt conduziu boa parte das canções e vale lembrar que no dia da morte do Andre, o angra tinha uma show marcado e não realizou, aproveitou o espaço e as pessoas que compareceram para fazer uma homenagem com os fãs, outro momento muito emocionante e que fiquei feliz de ver a atitude do Rafael, já que sabidamente ambos tinham algumas divergências desde os tempos de Angra. O Rafael se mostrou um grande cara!

Dia dia 13 de julho rolou um show aberto em São Paulo, na Praça da República, em homenagem ao Dia Mundial do Rock e nesse dia, integrantes de Viper, Angra e Shaman se juntaram no palco para tocarem músicas que o Andre cantou ao longo da carreira, foi outro momento lindo com o público ovacionando o ato. Ainda nesse dia, o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas, decretou oficialmente o dia 8 de Junho, data da morte de Andre Matos, como o Dia Municipal do Metal.

Em setembro a homenagem veio até em nome de aranha. Roqueira e cientista, Cristina Anne Rheims, pesquisadora do Instituto Butantan descobriu e nomeou quatro destes aracnídeos em homenagem a astros do rock, entre eles, Andre Matos.

Publicadas na revista científica “Zootaxa”, as espécies foram descobertas em matas de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo e pertencentes à família Sparassidae e ao novo gênero Extraordinarius, criado também pela pesquisadora. O nome dado na homem foi de: Extraordinarius andrematosi.

Em dezembro, passou a contar no catálogo da Latam um tributo à Andre Matos. Idealizado pelo empresário Paulo Baron, CEO da Top Link Music, o material conta com os clipes de Carry On, Time e Make Believe, do Angra, e Fairy Tale e For Tomorrow, do Shaman, além do DVD To Live Again Live in São Paulo, do Viper, e um documentário com todos os artistas que se apresentaram no dia ‪13 de julho‬, Dia Mundial do Rock

Um adeus do físico, mas nunca de seu legado

Como eu disse no momento em que fiquei sabendo da notícia sobre o falecimento: “Meu maior ídolo na música se foi. O maior vocalista do metal nacional. Ex Viper, Angra e Shaman nos deixa aos 47 anos ☹ A ficha vai demorar a cair. Fui a 12 shows, 10 em Poa, 2 em SP + uma sessão de autógrafos. Conversamos rapidamente três vezes, temos duas fotos”. Shows, álbuns, conversas, fotos, foram atos concretos e físicos, porém o legado que fica é o sentimento de eternidade que levaremos e sempre ovacionaremos suas composições e sua voz. Andre será eterno no coração de quem foi impactado por sua obra. Nos momentos de saudade, lembremos a letra de Here I Am (Shaman):

When you gaze at the sky above – Quando você contemplar o céu
I’ll ever come down – Eu sempre descerei
To ease your solitude – Para aliviar sua solidão
And now – E agora
Here I am, open arms – Aqui estou eu, de braços abertos

#AndreMatosParaSempre         #AndreMatosForever

Fernando Cunha ©

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