Ah, é só futebol

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Desde muito novo sempre fui envolvido com futebol, sempre joguei, sempre fiz parte de times aqui e ali, sempre fui atuante no estádio também. Em 1991 foi meu primeiro contato com o Beira-Rio, indo a um jogo de futebol profissional.

Ao longo da adolescência, juventude e como adulto, sempre conciliava o futebol da semana, uma ou duas vezes, e a ida ao estádio ou vidrado na frente da tv, mas noto que esse interesse vem diminuindo na última década. Às vezes me pego pensando, por quê?

A paternidade não tem a ver com isso. Parece que há troca no interesse. Eu até acredito que o futebol entrega outras coisas além do que apenas a disputa e a emoção. Como sempre estive muito envolvido com times, competições (de várzea, é claro), jogava direitinho até e percebi que o futebol, assim como todos os esportes, você faz amizades, as vezes grandes amizades, exercita qualidades como cooperação, trabalho em grupo, disciplina, entrega, força de vontade, garra, entre tantas outras coisas e isso é magnífico. Porém, as vezes também é estressante, pode gerar confusões e a competitividade ao extremo pode ser algo prejudicial.

Como torcedor é um pouco parecido. Sempre fui Colorado presente, fiel, sócio e não perdia um jogo, mas o futebol como torcedor também pode ser ilusório e estressante. E olha que fala aqui um cara que viu o Inter ser bi-campeão da libertadores e campeão do mundo, embora tenha sofrido a década de 90 inteirinha, indo a muitos e muitos jogos. Mas esse sofrimento (e todo o torcedor é um sofredor) tem me gerado cada vez menos interesse.

Aquilo de ficar tirando onda com o adversário, situações que vão indo, indo e as vezes podem até explodir. Amigos de anos podem brigar, parentes, vizinhos e o boom da globalização, das redes sociais, fez isso se potencializar ainda mais. Já faz alguns anos que não faço mais questão de ficar de corneta com o clube adversário ou rindo de suas derrotas, por sinal essa foi minha primeira transformação. Larguei isso, tenho que focar é no meu clube. Claro que torço pela derrota do rival, mas sem fazer piadinhas, rir de amigos e conhecidos, cada vez acho isso mais patético. Mas como dizem, esse é o futebol.

O próprio ato de torcer de forma obcecada pelo seu clube já é algo que a chance de dar errado é maior do que a de dar certo e não importa para qual clube você torce, a probabilidade de dar errado é maior. Um campeonato onde jogam 20 clubes, você tem uma chance de ser feliz e 19 de dar errado. É matemático.

Não vou dizer que nunca mais irei em um estádio, nunca mais torcerei, nunca mais vou sentar na frente da tv para ver um jogo do meu time, mas venho tentando me envolver um pouquinho menos. Aquilo de deixar de ir a algum lugar, parar algum trabalho para ver um jogo que não vale nada, contra um adversário sem expressão eu tenho conseguido fazer. Antigamente era sagrado, agora sagrado é o meu tempo de produzir, de pensar, de criar outros momentos de satisfação.

Hoje prefiro ler sobre alguma coisa, sair com a família, produzir algo, fazer qualquer coisa que possa agregar, tanto intelectualmente como em momentos felizes que adicionem mais sorrisos a vida. Hoje, quando acontece algum revés do meu time, antes de ficar chateado como no passado eu ficava, logo boto a cabeça no lugar e eu penso: “ah, é só futebol!” e sigo dando mais ênfase para o que realmente importa, que é a vida fora das quatro linhas.

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