Personagens da História: Salvador Allende

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“É difícil encontrar alguém com o espírito de luta, a coragem e a história de Allende. Ele foi um homem que, na verdade, teve o nome marcado na história: democraticamente a esquerda chegou ao poder, e pelas bombas foi apeada do governo”.
Senador Pedro Simon

Salvador Allende Gossens foi um médico e político marxista chileno. Fundador do Partido Socialista, governou seu país de 1970 a 1973, quando foi deposto por um golpe de estado liderado por seu chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet.


Allende foi o primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista eleito democraticamente na América Latina. Seus pilares ideológicos foram o socialismo, o marxismo e a maçonaria. A partir destas convicções, foi muito respeitoso com todas as ideias políticas democráticas e com todas as confissões religiosas. Allende foi um revolucionário atípico: acreditava na via eleitoral da democracia representativa, considerava ser possível instaurar o socialismo dentro do sistema político então vigente em seu país.


Ao assumir a presidência, Allende tenta socializar a economia chilena, com base num projeto de reforma agrária e nacionalização das indústrias. A sua política, a chamada “via chilena para o socialismo”, pretendia, segundo ele, uma transição pacífica, com respeito às normas constitucionais chilenas e sem o emprego de força, para uma sociedade de paradigma socializante. Nacionaliza os bancos, a parte das minas de cobre que restou em mãos privadas após as nacionalizações promovidas pelo ex-presidente Eduardo Frei Montalva, e várias grandes empresas – o Estado chileno chega a controlar 60% da economia – e passa a sofrer pesadas pressões políticas norte-americanas e de grupos de pressão criados no Chile pela CIA, como a organização terrorista Patria y Libertad, de orientação nacionalista-neofascista.


Em seu discurso de 21 de maio de 1971, falando sobre a meta e não apenas sobre a etapa, definiu o socialismo chileno como libertário, democrático e pluripartidário.


A pressão norte americana era grande, uma das razões diretas do fracasso da “via chilena para o socialismo” deveu-se a situação geopolítica mundial de então, de plena Guerra Fria, com os Estados Unidos envolvidos na Guerra do Vietnã, não podendo admitir o nascimento de um segundo regime socialista na sua área de influência, após Cuba. Nos anos de 70, na América do Sul inteira, apenas o Chile, a Colômbia e a Venezuela mantinham Estados de Direito, com governantes eleitos pelo povo. Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador e Uruguai, estavam tomados por regimes militares, muitos instalados, e todos apoiados, por Washington. Além disso, as nacionalizações e estatizações adotadas pela Unidade Popular feriram diretamente os interesses de grandes corporações americanas, dentre elas a então poderosa ITT, que passou a pressionar o governo Nixon “a tomar providências”.


Rapidamente o governo norte-americano submeteu o Chile a um bloqueio econômico informal, que impedia o Chile de obter empréstimos internacionais ou bons preços para o cobre, o seu principal produto de exportação. Isso foi denunciado por Allende num dramático discurso na ONU. Os Estados Unidos adotaram a estratégia de sufocar gradualmente a economia chilena até que um levante das Forças Armadas pusesse fim a “via chilena para ao socialismo”. Edward Korry, o embaixador norte-americano em Santiago, dizia: “não permitiremos que nenhuma porca e nenhum parafuso (americanos) cheguem ao Chile de Allende”. O Chile, tradicionalmente dependente de importações dos Estados Unidos, passou a ver suas indústrias e suas frotas de caminhões, tratores, ônibus e táxis serem progressivamente paralisadas por falta de peças de reposição.


O Golpe!


A primeira tentativa de golpe resultou de uma aliança entre o Patria y Libertad e militares chilenos, quando essa organização se aliou a um setor do exército que ocupava altos postos através do Chile, num projeto – fracassado – que pretendia tomar de assalto o Palácio de La Moneda e derrubar o governo. A operação ficou conhecida como El Tanquetazo e foi realizada em 29 de junho de 1973. A inteligência do exército, então comandado pelo general constitucionalista Carlos Prats, detectou a tentativa de golpe e ele teve que ser abortado, não sem antes alguns tanques terem saído às ruas e se dirigido a La Moneda.


Em 2 de junho de 1973 a requisição de Allende, solicitando a instauração do estado de sítio, fora negada pelo Congresso Nacional, por 51 votos a 82.


O Povo, revoltado, clamava nas ruas de Santiago do Chile pelo fechamento do Congresso Nacional, aos gritos de: “a cerrar, a cerrar, el Congresso Nacional…”. Diante disso, Allende fez um discurso, no qual chegou até a ser vaiado pela multidão:


“Faremos as mudanças revolucionárias em pluralismo, democracia e liberdade. Mas isso não significa, tolerância com antidemocratas, nem tolerância com os subversivos, nem tolerância com os fascistas, camaradas! Mas vocês devem entender qual é a real posição deste governo. Não vou, porque seria absurdo, fechar o Congresso. Não o farei. Já disse eu repito. Mas caso necessário, enviarei um projeto de lei de plebiscito para que o povo resolva esta questão.” Salvador Allende


Em setembro o cerco se fechou. O general Prats, de fortes tendências constitucionalistas, e que se recusava a participar de qualquer golpe militar, desacatado publicamente por uma manifestação de esposas de oficias golpistas diante de sua residência, se viu obrigado a renunciar a seu posto de Comandante em Chefe das Forças Armadas, e em 11 de setembro seu sucessor, o general Pinochet, um antigo homem de confiança de Allende, terminou com o que restava da democracia chilena, com ostensivo apoio dos Estados Unidos, as Forças Armadas dão um sangrento golpe de Estado que derruba o governo da UP. O general Prats foi assassinado pela DINA – a polícia secreta pinochetista – no seu exílio em Buenos Aires, num atentado à bomba.


Análise


Embora se declarasse marxista, Allende não seguia à risca os ensinamentos do filósofo do século XIX, e acabou isolado no poder. Segundo escreveu Moniz Bandeira em seu livro “Fórmula para o Caos”, que narra a experiência socialista do Chile: “a proposta da Unidade Popular estava destinada ao fracasso. Karl Marx dizia que o socialismo é inviável como via de desenvolvimento, sobretudo num país atrasado como o Chile, em que 70% da produção era de cobre e 70% dos alimentos tinham de ser importados. Era um país vulnerável, ainda mais na esfera de influência dos EUA. O projeto era inviável”.


Versões sobre a morte


Havia duas versões aceitas sobre a morte de Allende: uma era que ele se suicidara no Palácio de La Moneda, cercado por tropas do exército, com a arma que lhe fora dada por Fidel Castro; a outra versão é que ele fora assassinado pelas tropas invasoras. Sua sobrinha Isabel Allende Llona era uma das que acreditam que seu tio fora assassinado, já a filha do Presidente, a deputada Isabel Allende, declarou que a versão do suicídio era a correta.


Allende foi inicialmente enterrado numa cova comum, num caixão com as iniciais “NN”. Com o término da ditadura de Pinochet, Allende teve um funeral com honras militares, em 1990 no Cemitério Geral de Santiago.


Os restos mortais do ex-presidente do Chile Salvador Allende foram exumados a 23 de Maio de 2011 para determinar a causa da morte. A exumação foi ordenada pelo juiz Mário Carroza, na sequência de um pedido feito em representação dos familiares pela senadora Isabel Allende, filha do ex-presidente chileno, para determinar com “certeza jurídica as causas da sua morte”. No dia 19 de Julho de 2011, a perícia realizada nos restos mortais do ex-presidente confirmou que sua morte fora ocasionada “por ferimento de projétil” e de “forma corresponde a suicídio”.


Jogo Rápido:


Nacionalidade: Chile


Nascimento: 1908


Morte: 1973


Causa da Morte: Sempre houve dúvidas entre assassinato e suicídio. Após perícia realizada nos restos mortais em 19 de julho de 2011 foi constatado o suicídio.


Função na História:


* Político socialista marxista chileno.


* Primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista eleito democraticamente na América Latina.


* Médico


* Fundador do Partido Socialista Chileno


* Presidente do Chile entre 1970 e 1973.

Texto de Fernando Cunha ©

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