A Paixão Gaúcha Pelo Futebol

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Trecho retirado da minha Monografia – Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo

 

O sentimento de paixão dos gaúchos pelo futebol começa em 19 de julho de 1900, com a criação do Sport Club Rio Grande, primeiro clube brasileiro dedicado só ao futebol e mais antigo em atividade no País. Durante seus 108 anos, o Rio Grande ganhou alguns títulos importantes, como o Campeonato Gaúcho de 1936, lutou contra muitas dificuldades, sobreviveu a todas e jamais deixou de participar dos torneios pelo Estado, mesmo sob muitas adversidades. Esse foi o marco da relação mais que centenária dos gaúchos com o futebol.

 

A organização de fato do futebol no Rio Grande do Sul só veio quando o Sport Club Rio Grande completou 18 anos de existência. Em 1918, com a criação da Federação Riograndense de Desportes, que mais tarde viria a ser a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), como é explicado no site da entidade (http://www.fgf.com.br/portal/fgfhistorico.php). “Desde o início do século eram disputadas partidas amistosas, existiam muitas ligas e competições citadinas e regionais. Mas faltava uma entidade que comandasse o futebol gaúcho e organizasse o campeonato. No dia 18 de maio de 1918 foi fundada a Federação Riograndense de Desportos com a finalidade principal de congregar as associações desportivas e criar a disputa pelo título de campeão estadual. A reunião que marcou a criação da entidade aconteceu na sede da revista “A Máscara”, no centro de Porto Alegre.

 

O primeiro presidente foi Aurélio de Lima Py, do Grêmio, que teve a tarefa de unir as várias ligas existentes para a disputa do primeiro campeonato estadual. A primeira competição, devido a uma forte epidemia de gripe, somente aconteceu em 1919. Os participantes foram Grêmio, Brasil de Pelotas e 14 de Julho de Livramento.

 

A Federação Riograndense de Desportos que transformou-se em Federação Gaúcha de Futebol já teve até hoje 22 presidentes e um interventor. O Dr.Aneron Corrêa de Oliveira é até agora o recordista na presidência da FGF. Ele comandou a entidade por 20 anos consecutivos.

 

O atual presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto Neto, empossado no dia 19 de janeiro de 2004.“.

 

Quem não é do Rio Grande do Sul e não conhece de perto a realidade esportiva do Estado sempre é levado a acreditar que a força do futebol gaúcho decorre exclusivamente da rivalidade entre Internacional e Grêmio. Essa conclusão, entretanto, não é capaz de explicar todas as circunstâncias que levaram os dois grandes times do Estado a grandes conquistas.

 

O Ex-Presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Emídio Perondi, tenta explicar esse motivo na FGF – Revista da Federação Gaúcha de Futebol, (1997, pg.03). “O futebol gaúcho não é grande por acaso, ou porque aqui surgem bons valores técnicos e alguns excepcionais administradores. Em certas circunstâncias, até os gênios ficam sem respostas para alguns enigmas.

 

No caso do nosso futebol, a cada ano se apresenta um desafio a ser vencido. Essa constante exigência de superação é que forja o caráter inabalável do desportista gaúcho” . Os dois maiores clubes do Rio Grande do Sul, estão na capital, em sua rivalidade quase centenária o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (criado em 1903) e o Sport Club Internacional (em 1909), propagaram o futebol gaúcho por todos os cantos do planeta, em Peleia, Fabiano Baldasso e Carlos Guimarães (2007), citam a realização do primeiro Gre-Nal, que viria a ser o maior clássico do Estado. “Dois gigantes nasceram na primeira década do século XX. Um, em 1903. Outro, em 1909. Dois opostos. Os opostos se atraem. Dois semelhantes. Semelhantes que se repelem. Duas almas, duas entidades, duas paixões. Quando o Grêmio Football Portoalegrense e o Sport Club Internacional, precisamente às 15h23min do dia 18 de julho de 1909, deram o pontapé inicial para o primeiro jogo de futebol entre as duas agremiações, parte da história do Rio Grande do Sul estava mudando.” (Baldasso;Guimarães, 2007, pg.10).

 

Os dois clubes já foram campeãs mundiais interclubes, em 1983 o Grêmio pintou a América e o mundo de azul e em 2006 foi a vez do internacional atingir o ápice que um clube pode chegar. A grandeza das duas instituições e a paixão movida por suas torcidas faz com que os gaúchos digam ser a maior rivalidade do mundo, como é alegado em Peleia, Fabiano Baldasso e Carlos Guimarães (2007). “Por que a gente considera o Gre-Nal como o clássico de maior rivalidade do planeta? Certo, nós somos um pouco bairristas. Mas a palavra certa é uma só: Paixão. Somos completamente movidos por uma paixão construída ao longo de 100 anos de história. A história de um futebol com identidade, personalidade, autenticidade e singularidade.” (Baldasso;Guimarães, 2007, 148).

 

A paixão dos gaúchos pelo futebol é tão grande que faz com que o Estado pare quando ocorre um Gre-Nal, é comum ver ruas vazias, avenidas com baixo trafego de carros e os torcedores vidrados em frente à TV ou Rádio. Dois dos maiores cartões postais de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul pode ser conferido no jornal informativo especial, Zero Hora – O Melhor do Rio Grande (2006, pg.05) “Qual é o oposto do azul? Qualquer porto-alegrense responderia com naturalidade que é o vermelho, embora a resposta pudesse parecer absurda para alguém de fora do Estado. “Azul não tem antônimo”, retrucaria um visitante desavisado. Mas quem nasce ou adota Porto Alegre como moradia sabe que uma paixão move os gaúchos. Uma paixão dividida em duas cores, enraizada na cultura e no sentimento de sua população. É o Gre-Nal, a partida entre os dois maiores clubes do Estado.

 

Embora Grêmio e Inter tenham torcedores espalhados pelo Rio Grande do Sul e pelo Brasil, é em Porto Alegre que culmina a rivalidade. Seja no Olímpico ou no Beira-Rio, o Gre-Nal é um espetáculo de cores, caras pintadas, bandeiras, emoções e comemorações. Uma partida mais apaixonada e fervorosa do que qualquer outra de dois times, mesmo que não esteja valendo a taça, liderança ou classificação em um Campeonato Gaúcho ou Brasileiro, melhor ainda. Que colorado não lembra do Gre-Nal dos 5 a 2, quando o Inter manteve sua liderança no Brasileirão de 1997 após uma vitória de goleada no clássico, em plena casa do rival? E qual gremista poderia esquecer da final do Gauchão de 1977, quando o Grêmio ganhou de 1 a 0, quebrando uma hegemonia de oito anos de títulos consecutivos do principal adversário? Também marcaram época o chamada Gre-Nal do Século, vencido pelo Inter na semifinal do Brasileirão de 1988,e o Gre-Nal Farroupilha, que decidiu a taça citadina em favor do Grêmio em 1935. São partidas inesquecíveis, que fazem parte das boas memórias da vida de gremistas e colorados.

 

Sim, porque a rivalidade estabelecida entre os dois times é bem-vinda e torna-se uma constante na vida dos gaúchos. O Gre-Nal é tão importante que deixa saudade quando não ocorre por meses ou anos. O Rio Grande do Sul é o único Estado onde azul é oposto de vermelho. Mas uma cor precisa de outra para suscitar entre suas torcidas o sentimento mais apaixonado pelo futebol.”

 

O maior clássico do Rio Grande do Sul foi disputado 369 vezes, sendo 137 vitórias para o Internacional, 118 para o Grêmio e 114 empates. Já correram Gre-Nais em diversas competições além do Campeonato Gaúcho, como no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil, Copa Sul, Copa Sul-Minas, Seletiva para a Libertadores, entre outros.

 

Os dois clubes já conquistaram todos os títulos requeridos para que um clube possa ser chamado de grande. O Internacional, ou Colorado (como também é chamado) conquistou um Mundial Inter-Clubes FIFA, uma Taça Libertadores da América, três Campeonatos Brasileiros, uma Copa do Brasil, 38 Campeonatos Gaúcho, entre outros. Já o Grêmio, ou Tricolor Gaúcho (como também é chamado), conquistou um Mundial Inter-Clubes, duas Taças Libertadores da América, dois Campeonatos Brasileiros, quatro Copas do Brasil, 35 Campeonatos Gaúchos, entre outros.

 

Outra citação sobre essa paixão pode ser conferida em Peleia, Fabiano Baldasso e Carlos Guimarães (2007). “Um Gre-Nal arruma a casa”, uma vez disse Ibsen Pinheiro. “O Grêmio não seria nada sem a grandeza do Internacional”, afirmou Rudi Armin Petry. “Eu nunca vi uma rivalidade como esta em toda a minha vida”, disse um andarilho deste mundo. Acreditamos em todos eles. O Gre-Nal é a razão de o Rio Grande do Sul ser tão apaixonado por futebol. (Baldasso;Guimarães, 2007, pg.11).

 

Além da dupla Gre-Nal, o Rio Grande do Sul tem vários clubes pequenos de tradição, com camisas reconhecidas pelos torcedores e que possuem vínculo sentimental com suas comunidades. Assim, o futebol não se resume a Grêmio e Internacional na TV. O amor ao futebol também é externado na beira da tela de estádios como o Bento Freitas (do Brasil de Pelotas, dono da maior torcida do interior do Estado), o Centenário (em Caxias do Sul), o Pedra Moura (em Bagé) e tantos outros.

 

O futebol é cultuado por todo o interior e na capital. As competições internas são fortes, embora falte dinheiro para levantar muitos clubes considerados pequenos.

 

O futebol no Rio grande do Sul não é apenas contemplativo. Tanto no interior quanto na capital são extremamente difundidas as peladas, em campos de várzea ou quadras alugadas, além de inúmeros campeonatos amadores e envolvendo as categorias de base dos clubes. No interior do Rio Grande do Sul são famosas as competições que fazem parte as categorias de base dos clubes, em Alegrete, interior do estado, acontece o Encontro de Futebol Infantil Pan-Americano (Efipan), como é explicado no jornal informativo especial, Zero Hora – O Melhor do Rio Grande (2006). “O Encontro de Futebol Infantil Pan-Americano (Efipan) reúne desde 1980 o melhor do futebol infantil do Rio Grande do Sul, do Brasil e de países do Mercosul. Na sua primeira edição, já reuniu equipes como o Nacional de Montevidéu, Cerro Porteño, de Assunção, a Seleção de Buenos Aires, Palmeiras (SP), entre outros. O torneio é reconhecido pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).

 

Todos os anos, na primeira semana de janeiro, centenas de meninos com idades de até 13 anos deixam de lado parte do período de férias pela chance de brilhar no encontro. Já passaram pelo Efipan jogadores como Ronaldinho, do Barcelona, os argentinos Caniggia e Tevez e o gaúcho Rafael Sóbis.

 

Por isso, não é raro ouvir alguém comentar que o encontro antecipa futuros craques. Para a arbitragem são chamados juízes de futebol de renome, como o representante brasileiro na Copa da Alemanha, Carlos Eugênio Simon.

 

A competição também premia os torcedores sempre com o primeiro Gre-Nal do ano. E, ao final do evento é escolhida a seleção Efipan e seu craque revelação.” (2006, pg.53).

 

Já em Santiago, ocorre a 20 anos a Copa Santiago de Futebol Juvenil, como é citada em Zero Hora – O Melhor do Rio Grande (2006). “Craques da bola são revelados na Copa Santiago de Futebol Juvenil desde 1998. O torneio conta com times do Mercosul e já foi prestigiado por equipes do México, do Japão e pela seleção juvenil da China. Já disputaram o torneio jogadores como Ronaldinho, Anderson Polga e Emerson.” (2006, pg.161).

 

Como podemos ver a força do futebol gaúcho não está apenas nas grandes conquistas. A origem de tudo está no esforço de todos para manter o futebol vivo em todos os gramados do estado, para deixar em evidência os considerados pequenos e cidades que não são consideradas pólos de futebol.

 

Em síntese, a importância de um país ou estado no cenário futebolístico não se faz apenas com muito dinheiro. É necessário um espírito coletivo que mantenha aceso o amor pelo futebol. É preciso que se mantenham todas as instituições, que reforcem esse vínculo emotivo com a bola. Por isso o trabalho dos pequenos também faz parte da história de sucesso da dupla Gre-Nal.

 

Em Peleia, Fabiano Baldasso e Carlos Guimarães, (2007), uma referência sobre o motivo da paixão gaúcha pelo futebol. “Uma história construída e permeada por batalhas, combates, façanhas e heróis. De um Estado que se orgulha de cantar o seu hino, que se orgulha de servir de modelo a toda terra, mostrando valor, constância, com um povo que tem virtude e jamais, jamais acaba por ser escravo.

 

Essa é a motivação. Bairrismo? De forma alguma. Apenas queremos mostrar a importância do nosso povo dentro do contexto brasileiro. E aí, voltamos para o começo de tudo. Há algo melhor do que futebol para explicar tudo isso? Certamente, nada mais apaixonante.” (2007, pg.07).

 

A paixão do povo gaúcho pelo futebol eleva o esporte pelo mundo, divulgando o futebol não só gaúcho, mas brasileiro, suas peculiaridades, virtudes e principalmente emoção.
Texto de Fernando Cunha ©

Um comentário em “A Paixão Gaúcha Pelo Futebol

  • maio 11, 2008 em 2:18 pm
    Permalink

    Baaaah senhor contradição, muito bom o texto, a reportagem ou parte de um trabalho, hehehe. Ficou excelente, mostrou muito bem como é o futebol gaúcho… Parabéns mesmo 😀

    Bjoooooooooooooooooooooo coisinhooo, ehehhe

    Resposta

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